Opinião

Os incomparáveis e organizados armazéns dos bairros

Por Nery Porto Fabres
Professor
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Lá pelas décadas de 1960, 70 e 80, os armazéns gerais estavam em todos os bairros, os supermercados de hoje em dia ainda não tinham entrado em cena. Lembro do Armazém Colosso que abria as suas portas cedinho da manhã, de segunda a segunda, e já tinha uma dezena de clientes à espera na calçada de cimento. Isso se dava exatamente às 6h30min, nem antes, nem depois.

Sempre na mesma hora e não por acaso, havia três pessoas responsáveis pela abertura do comércio, se um faltasse os outros dois estariam prontos para cumprir o horário.

Um já começava o atendimento, enquanto as mercadorias eram expostas na calçada para a visualização de quem passasse pela Avenida Duque de Caxias, em Pelotas.

Naquele tempo os armazéns praticavam a comercialização de produtos alimentícios, vestuário, artefatos de cozinha, decoração, produtos de limpeza, carvão, ração para animais, cordas, etc.... assim, na calçada, às margens do prédio principal.

Eram uma mistura de agropecuária, pets, farmácias, armarinhos, bem parecidos com os supermercados atuais. Claro, em sortimento de produtos, mas com a diferença de regras da vigilância sanitária e controle dos pontos de vendas.

Aliás, as decorações na calçada e fachada do Armazém Colosso dependiam da temática do momento: Semana da Páscoa, Dia dos Finados, Dia das Crianças, Natal, Ano Novo, Dia dos Namorados, Dia dos Pais, Da das Mães e seguindo a lógica comercial destas datas festivas.

Se via cabo de ferramentas de campo, pilhas de alfafa, galinhas vivas a ser abatidas a pedido do cliente. Isso tudo ao lado dos sacos de arroz, feijão, milho, amendoim com casca. Claro, disputavam espaço com todos os possíveis itens de consumo.

A dona Herminda e o seu Osmar eram os proprietários do local, ela de origem alemã e ele italiano. Ambos de personalidades fortes, ele de pouca conversa, com o olhar penetrante na necessidade do cliente. Seu bigode, tipo escovão, amedrontava os espertinhos que queriam comprar fiado e não pagar a conta.

O casal tinha filhos e afilhados que os ajudavam no dia a dia, além de funcionários os auxiliando. A Herminda administrava com punhos de ferro, fazia o controle das compras e tratava de atender os fornecedores.

O Huguinho cuidava da parte comercial, controlava o estoque e gerenciava os funcionários. Seus irmãos: Loiva, Lucy e Cláudio davam um reforço nos finais de semana quando o movimento nas compras era intenso.

O seu Hugo, pai do Huguinho e irmão da Herminda, era quem fazia as entregas das mercadorias quando o cliente não tinha como carregar. Com ele, o filho da Herminda e do Osmar, Luis Eugênio, o acompanhava.

Naquela época o transporte era feito de charrete puxada por uma égua branca, sempre bem lavada e bem escovada e a condução mantinha toda a higiene que o bom condutor exigia.
A dona Herminda com sua simpatia, mas não amistosa demais, sabia ponderar e vender à prazo, suas anotações em cadernetas com nomes dos clientes ou vendas fiadas penduradas no gancho davam conta de controlar tudo que se comercializava sob seus olhos.

Sempre voltavam para pagar à "pendura". Bom lembrar que se tinha código de ética naquele tempo. Fio de bigode, palavra de homem, promessa era dívida... estas eram as expressões que a comunidade cultivava.

Bem, aqui se trata de tempos passados. Tempos em que as famílias migravam do campo para as áreas urbanas à procura de empregos. A única coisa que tinha mais valor que o dinheiro era a palavra dos homens.

Tempos bons aqueles em que se podia confiar uns nos outros. Sem a política corrompendo tudo e a todos.
Hoje em dia é imprescindível viver momentos de nostalgia. Talvez para se ainda crer que há como o ser humano voltar ao tempo e resgatar a sua ética e a sua moral social.

Neste atual mundo faltam hermindas e osmares para administrar os negócios em família, prezando a construção de valores familiares com satisfação e alegria em trabalhar sem depender dos governos.


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