Artigo

Pediatria: a especialidade

Os estudos psicanalíticos de crianças e adolescentes e de suas famílias, exigem uma formação detalhada, teórica e prática

Por Paulo Rosa professor da UCPel, Pediatria e Psicanálise, 1970-2010
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'Paidós + iatros', do grego criança + médico. Em português, pediatria, a medicina da criança. Esse é o conceito vigente há 50 anos: o currículo das residências, no País e no exterior, então indicava que estudássemos apenas a criança, tanto saudável quanto enferma, sem levar em conta seus contextos, i.e., a família, a sociedade. Esse tipo de abordagem limitada levou-me, na clínica, a enfrentar dificuldades no manejo de casos e a frustrações importantes, que me encaminharam, por fim, a procurar outros recursos técnicos. Precisava que novas abordagens possibilitassem compreender, diagnosticar e encaminhar questões que atingiam as famílias e, consequentemente, alcançassem os mais vulneráveis, suas crianças. Tais conflitos profissionais levaram a que viesse procurar a Psicanálise, como recurso para contextualizar a criança em seus ambientes e poder observá-la mais além de suas expressões corporais, somente seus sintomas corporais. Os estudos psicanalíticos de crianças e adolescentes e de suas famílias, exigem uma formação detalhada, teórica e prática, além de atendimento de casos sob supervisão de analista experiente, além de análise pessoal. Esse foi o caminho que decidi percorrer.

Naqueles primórdios nosso grupo pediátrico publicou trabalho sobre o tema, em revista especializada de São Paulo, com circulação nacional, onde denominamos o assunto como 'pediatria de família', na falta de melhor expressão. Sugeríamos ali a necessidade de abordagem clínica da família, pelo pediatra, mais além da mera indicação do que fazer para bem medicar a criança. A ênfase estava posta em uma perspectiva psicossomática dos sintomas clínicos, buscando suas origens nos processos relacionais estabelecidos dentro dos grupos familiares.

Observações científicas leves dos currículos das residências em Pediatria, contexto nacional, ainda hoje encontram escassas referências a estudos familiares sistemáticos. Tenho a forte impressão de que a formação na área mantém o antigo modelo de tomar apenas a criança, isoladamente, como objeto de estudo. Uma saudável exceção, quero crer, é o novo modelo de formação pediátrica da Universidade Católica de Pelotas, onde o residente faz estudos sobre a criança, mas também sobre família, ao acompanhar durante a formação médica, um grupo familiar por longo período, sob supervisão da disciplina de 'medicina de família'. Desta integração pediatria & medicina de família pode emergir novo 'modelo' de pediatra, capaz de intervenções pertinentes não só sobre a criança, mas também no grupo familiar. Em situações de extrema complexidade, ante patologias familiares graves e comprometedoras, o pediatra pode requerer o trabalho colaborativo de psicanalistas especializados.

A pediatria do século 21 é uma fascinante especialidade. Abrange bem mais do que a criança. Aborda o contexto familiar, e aí intervém.

Infância é destino. Norte da pediatria hoje.

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