Conjuntura Internacional
Uma guerra de atrito
A guerra na Ucrânia não possui prazo para terminar, principalmente pelas características que carrega
Por Cezar Roedel
Consultor de Relações Internacionais
A guerra na Ucrânia não possui prazo para terminar, principalmente pelas características que carrega. Reiteradas vezes trouxemos aqui na coluna o vaticínio de que o conflito provavelmente se transformaria em uma guerra de atrito ou exaustão, com trincheiras de cada lado do Rio Dniepre. O cenário da interminável batalha de Bakhmut nos recorda o vivenciado nas Guerras Mundiais. A guerra de atrito possui algumas características e, talvez a mais demarcada, é a provável impossibilidade de algum lado vencer, arrastando o conflito para um jogo demorado entre táticas temporárias que vão desgastando os efetivos militares. Bakhmut se tornou um exemplo vistoso desse atrito, com avanços e recuos dos dois lados. Parece que a Ucrânia, neste momento, vai recuperando algum relativo controle, onde muitos previam que a Rússia assumiria a liderança. A contraofensiva ucraniana começa a demonstrar os seus contornos. Da mesma forma, se espera incursões futuras de Putin para o domínio absoluto ou relativo, das regiões de Donetsk e Luhansk. Nas guerras de atrito prevalecem mais as táticas de curto prazo do que propriamente grandes estratégias. Todavia, a Rússia vem demonstrando claramente o fracasso de suas táticas, a não ser aquela orientada para debilitar a infraestrutura ucraniana. A maior preocupação russa tem sido referente às munições, com a tentativa das fábricas de armamentos trabalhando sem parar. A Ucrânia ainda parece apresentar algum desconhecimento das armas mais avançadas, enviadas pelas potências ocidentais, mas elas têm feito uma brutal diferença no campo de batalha.
Infraestrutura
Nas guerras de exaustão, com a proliferação de diferentes táticas, adaptadas aos momentos do conflito, surpresas podem aparecer. Foi o caso da explosão de uma represa de Nova Kakhovka, ao sul da Ucrânia, onde Putin e Zelenski trocaram acusações da autoria. A região está ocupada pela Rússia. A água invadiu a cidade e criou uma grande catástrofe, inclusive ambiental. O incidente ocorreu justamente quando a Ucrânia vai reforçando a possibilidade de uma contraofensiva. Os russos afirmam que se trata de estratégia ucraniana para tirar água da Crimeia. Os ucranianos acusam Moscou de um "ecocídio". Estudiosos dizem que o reservatório de Kakhovka seria uma das maiores barragens mundiais em termos de capacidade. Milhares ficaram sem energia. O reservatório era estratégico para o resfriamento da maior usina nuclear da Europa, a de Zaporizhzhya. Segundo as autoridades ucranianas, a destruição da represa poderia atrapalhar as ações militares de Zelensky nas próximas semanas, prejudicando parte de sua contraofensiva. A característica é notadamente a de uma guerra de atrito, onde ações não possuem um fundo estratégico, se não apenas inclinações situacionais, no calor do conflito, o que poderia também demonstrar certo pânico e descontrole pelos russos.
Incerteza
A incerteza é outro elemento que figura nos conflitos de exaustão. Esperam-se ações mais assertivas por parte dos ucranianos nas próximas semanas, enquanto certo descontrole russo se apresenta. Tudo isso não favorece um diálogo para o armistício e a paz, ao contrário, apenas produz destruição em todos os níveis.
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