Roni Quevevo
médico

Muitos já viram e viveram esta cena. Município no interior do Estado do RS, um sábado à tarde.
Esquina movimentada no centro da cidade. Um dia bem característico, calor úmido, abafado. À tardinha talvez chova...
Era véspera da Campanha da Fraternidade. Vida. Paz, Luz e Esperança, muita Esperança…
Será? Tomara que sim!
Fora isso, o visual é triste. Sofrível.
Aliás, diariamente temos escolhas para fazer. As escolhas…
A imagem é escancarada, todos adultos pedem uns trocados, umas moedas, esmolas enfim. Não importa quanto.
Uns para festejar aprovação no vestibular, outros para viajar com seu clube de futebol, outros ainda para ajudar animais abandonados.
Bem próximo, muito próximo dali, um outro tipo de pedinte.
Está em busca de esmolas, moedas, alguns trocados para comprar o que comer.
É uma Criança! Com fome e sem Escola...
O adjetivo ou a pergunta, que vem a seguir, fica a seu critério:
- estranho, chocante, deprimente, exótico, desumano, descabido, impróprio para menores, onde está o erro? Desvio de dinheiro público? Transtornos mentais?
Alguns dizem baixinho, o azar é delas!,"tô fora", e seguem seu caminho...
Estamos no século 21… Nem parece!
O que está acontecendo? Bizarro, deprimente, cruel, indecente, descuido, é a vida…
Voltando à cena. É interessante, os pedintes não se falam. Olhares desconfiados. Permanecem em silêncio e sem aproximação. Continuam pedindo.
O que será que pensam um do outro?
É uma concorrência. Uma negociação. Um não sei o quê…
Diversos são fins!
Uns para assistir um jogo de futebol. Outros para dar abrigo, um alento para um animal perdido, sem dono. Aqueles que irão festejar o ingresso na universidade, o destino das moedas é desconhecido, ainda!
E a criança?
Se for para salvar uma vida humana ou animal… Na dúvida, salve as duas.
Que "história" será esta que está acontecendo?
Na maioria das vezes, os carros e as pessoas não pararam.
Todos ignoram a Criança.
As doações foram para os animais, o jogo de futebol e a festa dos "bixos" universitários.
O ruído das moedas nos potes (dos outros), aguça o choro e desperta a fome…
Compreensível para quem não recebe atenção, um olhar ou até mesmo uma esmola como alento.
Talvez isso seja descuido. Ou, uma forma atualizada de tortura, século 21!
Lamentável que isto não seja ficção...