João Carlos M. Madail
Pelotense, a rádio que ninguém mais ouve.
João Carlos M. Madail
Economista, Professor, Pesquisador e Diretor da ACP
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A primeira transmissão de rádio que se tem conhecimento foi realizada, de forma experimental, em 1919. A partir daí, se tornou o meio de comunicação mais popular entre os brasileiros. Passados mais de 104 anos o rádio ainda desperta um enorme fascínio em muitas pessoas a ponto de ser considerado uma "paixão nacional". Hoje são mais de dez mil emissoras de rádio FM e AM ativas no Brasil, levando informação e entretenimento, de maneira rápida e acessível à população. Em diversas pesquisas, o rádio foi apontado como o meio de comunicação que possui a maior credibilidade pela população. A proximidade das emissoras e seus comunicadores nas transmissões de informações de forma instantânea cria vínculo direto e permanente com os ouvintes.
No dia 25 de agosto de 1925 foi criada, em Pelotas, a Rádio Pelotense, com o propósito social de interagir com a população, debater temas de seus interesses, alegrar ouvintes com programas musicais, esportivos, informativos e tudo mais que atraísse a sua audiência. A Rádio Pelotense, em especial, foi uma companheira de muitas pessoas, tanto nos momentos de insônia como na necessidade da informação, do conhecimento da hora de ir para o trabalho e, em muitos casos, para saber sobre a temperatura e o tipo de roupa usar nas saídas ou mesmo como se comportava o transito e muito mais. Foi uma rádio democrática na forma da comunicação, o que lhe permitiu estar presente em todas as camadas da sociedade.
A Rádio Pelotense, em função do alcance do seu sinal, foi à principal companheira dos viajantes distantes da sua cidade natal, mas interessados em notícias atuais. Ela foi tão importante na vida dos pelotenses que foi capaz de despertar nos ouvintes hábitos de consumo, em função da sua credibilidade nas propagandas promocionais. Com uma programação diversificada, a Rádio Pelotense transmitia para os seus ouvintes um universo de possibilidades, por meio de programas de debates de temas relevantes, fazendo com que seus ouvintes ficassem literalmente antenados e formassem suas próprias opiniões sobre o tema de seu interesse.
O rádio foi e sempre será o meio de comunicação mais próximo das pessoas, estejam onde estiverem. No contexto capitalista que se vive, onde tudo tem o seu preço, o rádio ainda é o meio de comunicação mais barato, basta ter um aparelho alimentado à energia elétrica, bateria ou a pilhas, que se tem um companheiro para ouvir o que interessa, seja no trabalho, em casa ou em viagem, o que torna a vida mais bem humorada, mais feliz e até nos informa o que está ocorrendo de anormal no País ou no mundo de forma instantânea.
O encerramento das atividades radiofônicas da Rádio Pelotense deixa órfão um número incalculável de ouvintes e uma cidade mais triste e inconformada com a decisão de seus diretores que devem ter razões fortes para tal medida. Afinal a Rádio Pelotense foi a mais antiga rádio do Rio Grande do Sul e a terceira mais extrema do Brasil que alcançava mais de 80 municípios da região com uma população de aproximadamente dois milhões de habitantes. A tristeza toma conta da imensa população que se acostumou a ouvir a Rádio Pelotense desde o momento que foi noticiado o encerramento das suas atividades.
Certamente, talvez esta tenha sido a notícia mais difícil de ser anunciada pela emissora e deve ter sido difícil também para os seus funcionários, colaboradores, patrocinadores e para a cidade de Pelotas que perde mais um dos seus símbolos históricos. A Rádio Pelotense sai do ar, mas não sai do coração e da mente das gerações que estiveram ligadas a ela por mais de 98 anos. Como uns dos passageiros colaboradores que também estão tristes por não mais contar com a companheira inseparável, resta-nos levar a Rádio Pelotense AM 620 para as páginas tristes dos anais da história de Pelotas.
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