Opinião
Rio Grande, região de fartura e de beleza incomparável
Por Nery Porto Fabres
Professor
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Depois de observadas as movimentações no porto de Rio Grande, fiscais da fazenda federal faziam inspeções nas cargas secas. Controlavam as barcas que surgiam por dentro da Lagoa dos Patos, os navios cargueiros que desciam pelo canal de acesso e atracavam no porto, os barcos que desligavam motores e percorriam caminhos silenciosos por correntes de águas que alcançavam Pelotas e cidades satélites.
Não havia como burlar o sistema tributário. O governo buscava estes recursos dos impostos para a organização social e política que se instalava em terras rio-grandinas.
E, para isso, os agentes do governo vinham à trote, cavalos pretos vestiam mantas de couro que se assemelhavam às suas crinas e peles, homens montados com roupas próprias de cavaleiros, portavam por trás de palas longas de couro tingidas por cores escurecidas como a noite, maletas com anotações, canetas, tinteiro, recibos, carimbos.
Por fora das capas que envolviam seus corpos se via botas de cano até o joelho, de igual combinação do requinte das montarias. As ruas ainda lotadas de clientes do comércio, se espremiam para dar passagens aos belos animais que reluziam ao passar por debaixo das lamparinas que costeavam as estreitas vielas.
O porto de Rio Grande transbordava de alegria quando navios e barcas vindas do Oceano ou da laguna descarregavam seus produtos para abastecer todas as estâncias de todas as querências desta terra tomada por uma cultura campesina.
As cidades vizinhas inauguraram as estações ferroviárias que acolhiam as locomotivas e sua extensão de vagões que compunham os trens que dominavam o cenário rural e urbano partindo do porto de Rio Grande.
Jovens de botas de couro fino desenhavam o bom gosto pela moda francesa, a elite mostrava a pompa em todas as estações dos trens e do ano.
O charme dos calçados que subiam às pernas até mostrar a elegância do terno com gravata de seda, ainda usavam cartola de tecido preto, ou chapéu de palha.
As mulheres não menos vistosas desfilavam com vestidos e chapéus de plumas, os mais velhos também de portavam bem alinhados e pomposos, desciam dos vagões de passageiros e se dirigiam aos vagões de carga para alcançar seus cavalos, meio de transporte que perdurou por muito tempo na tradição gaúcha.
Os apitos das locomotivas movidas a vapor, o cheiro dos eucaliptos queimando nas caldeiras produziam a fumaça que anunciava o progresso.
Nos locais públicos, em que a voz humana era ouvida com alegria, ruas recebiam calçamento de pedras, igrejas recrutavam fiéis às badaladas por sinos das torres, panfletos eram jogados na mão de quem passava, anunciavam aberturas de pontos comerciais, de medicamentos, de oferta de empregos, de restaurantes e bares.
Para abastecer os estabelecimentos de todas as atividades comerciais, hospitalares, religiosas e a administração em geral, eram necessários diversos segmentos de transportes que, depois de descidas as cargas do porto, pudessem ser distribuídas a quem interessasse.
Este deslocamento de produtos por águas agradava as autoridades, as quais detinham o lucro sobre cada entrada e saída das cargas.
Rio Grande estava no mapa nacional, não porque as pessoas estavam desenvolvendo uma comunidade pacífica e gentil, mas por produzir riquezas e pagar impostos altíssimos ao governo brasileiro... (continua)
(Trecho da obra A História do Rio Grande sob um olhar descontraído)
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