Sergio Cruz Lima

Sem mãe, sem pai, sem liberdade…

Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Tivemos três reis: dom João VI, manso e próvido fundador da monarquia americana; dom Pedro I, que proclamou a Independência e coroou-se imperador; e dom Pedro II, frio e tranquilo, que ilustrou um dos mais extensos reinados da História. Ou por outra: o quieto e espertíssimo avô; o filho trêfego e aventureiro de cálida vocação heroica; o neto sábio e cauto, um dos mais serenos e nobres espíritos do século 18. Ao "Rei do Brasil", como o chamavam, ironicamente, os diplomatas estrangeiros, sucedeu o "Cavaleiro", último forte de uma raça ousada de paladinos românticos, e a ele, o "Rei Filósofo", com perfil de magistrado, a mania da erudição, o gosto das letras e o irredutível gênio civil. Iluminados pela sua estrela, que os trouxe, e levou da América, passaram outrora os reis magos. Foram três! Encarnaram - no confuso período em que se elaborava o Estado, na gloriosa fase de sua fundação e no largo tempo da sua consolidação - o Brasil, que criaram.

Na madrugada de 2 de dezembro de 1825, Guimarães Peixoto, médico da imperatriz, anuncia o nascimento de dom Pedro, o filho varão tão aguardado pelo trono. Fora feliz o parto de Sua Alteza, o príncipe herdeiro do Brasil, como os outros, das princesinhas suas irmãs Maria da Glória, Januária, Francisca e Paula Mariana. E que esplêndida festa se fez pelo batizado! Em grande gala, desfilou a nobreza pelos corredores palacianos entre a ucharia e a capela imperial, precedendo ao pálio, a cujas varas iam os homens do governo, levando nos braços o principezinho o visconde da Cunha, mordomo-mor da imperatriz. Os diplomatas, peitos constelados de comendas, os generais, com as medalhas da Cisplatina e da Independência, os cônegos de capas roxas, os grandes do Império, com a Cruz de Cristo sangrando ao pescoço, formavam tumulto ao redor do berço onde dormia a criança. As salvas das fortalezas e dos navios abalaram a cidade. Foguetes espocavam no ar. O incenso, os salmos, a penumbra, o cantochão ninaram o menino como se fosse um quente regaço de ama.

Dona Mariana de Verna, uma senhora piedosa, conhecida por exemplares virtudes e invulgar ilustração, membro do grupo das damas emigradas com a família reinante, em 1808, foi escolhida para aia do herdeiro imperial. Maria Catarina Equey, uma colona suíça, sadia e mansa como devem ser as nutrizes dos príncipes, foi eleita a ama-de-leite. Mas a infância de dom Pedro não seria feliz. Perderia a mãe para a morte; o pai e a madrasta para o 7 de abril, data em que dom Pedro I, ao abdicar ao trono, viajou para a Europa, deixando o menino, aos cinco anos de idade, entregue à generosidade dos brasileiros. Sem mãe, sem pai, sem liberdade…

Hoje, ninguém vai a Petrópolis sem visitar, na catedral, a capela que exibe o mausoléu de dom Pedro II. Não é um mito, é um homem. É uma figura humana que passa, ou antes, não passou. Porque se sobrepôs ao tempo; e dele hoje falamos como se fosse de ontem a sua presença.

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