Editorial

Terra de alguém

Espanta a burrice de quem, em tempos digitais, ainda usa a internet sem qualquer freio. Foram várias "eras", passando pelos famosos cancelamentos, até se entender que a internet tem regras e tem memória, bem longa. O período em que se postava qualquer coisa com pouco ou nada a arcar já passou e, não raro, alguém cai no retrô e algum impropério proferido em uma madrugada qualquer de 2009 vem à tona, embora muitas vezes a pessoa já não seja mais a mesma que postou aquilo. Arcar com o que se faz no ambiente virtual e com as consequências do mundo online se tornou rotina da sociedade em que vivemos. Nas últimas semanas, foram diversos os exemplos disso, alguns assustadores.

O deslumbre com que assessoras do ministério da Igualdade Racial lidaram com a viagem oficial durante a final da Copa do Brasil fez com que pelo menos uma delas perdesse um cargo cujo salário beira os R$ 20 mil ao mês. Imagina-se que em breve a outra deva ser exonerada também. Dentro de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) e do estádio do Morumbi, funcionárias de alto escalão do governo que acompanhavam a ministra Anielle Franco não se intimidaram em fazer diversos stories para o Instagram com deboches ao São Paulo, à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e aos paulistas, em geral. A ação do ministério, que tinha como objetivo tentar ajudar a livrar nossos estádios do racismo, algo corriqueiro nesses ambientes, acabou esquecida. Ficou só a imagem das (ex) servidoras.

Mas esse caso não é único. São constantes as ações das forças de segurança em relação a isso. Ontem mesmo a Polícia Federal foi atrás de pessoas que, durante os atos de 8 de janeiro, fizeram transmissões ao vivo filmando a si próprias cometendo crimes. É uma falta de noção tão escabrosa que parece mentira. Um deles se filmou sentado na cadeira do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Há também o caso dos alunos de uma universidade em Santo Amaro que, nus, correram pelo ginásio da instituição. Em uma sociedade em que todo mundo tem uma câmera à mão, obviamente foram filmados, viralizou e acabaram expulsos (agora, conseguiram a reversão na Justiça, mas é uma história que ainda vai longe).

A internet tem memória, as telas fazem print e todo mundo tem uma câmera à mão. Esquecer-se disso hoje em dia é mais do que desatenção, é falta de noção da realidade.


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