Editorial
Terra de ninguém
É inquestionável o papel que as redes sociais possuem como disseminadores de conteúdos. Textos, fotografias, vídeos e áudios que até outro dia demandavam grande esforço de pesquisa por parte de quem tivesse interesse em acessá-los estão hoje à disposição. Contudo, já faz algum tempo que tais plataformas vêm sendo questionadas sobre os critérios adotados para levar até seus usuários tópicos e ideias.
Graças aos algoritmos, o teor daquilo que cada pessoa recebe na tela de seu celular, tablet, computador ou smart TV acaba sendo cada vez mais personalizado, capaz de manter o usuário engajado por mais tempo, com interesse em assistir, curtir e compartilhar. Esta é uma parte do problema, segundo muitos estudiosos sobre o assunto, visto estar gerando as chamadas "bolhas" que, ao invés de estimularem conexões e circulação de conhecimento, resultam em isolamento e reforço àquilo que corrobore a mesma visão de mundo, os mesmos conceitos (e preconceitos) e, o pior de tudo, a aversão a tudo e todos que possam ser diferentes.
Porém, episódios recentes em que as redes sociais se mostraram território fértil à disseminação de ideias no mínimo controversas têm colocado à prova também autoridades da segurança pública. Um exemplo é o ataque golpista aos três poderes da República, dia 8 de janeiro, em Brasília, cujas ideias extremistas e inconstitucionais circularam livremente, com os algoritmos das plataformas digitais atuando como amplificadores ao recomendar os conteúdos a mais usuários, potencializando audiências e ganhos financeiros de organizadores.
Contudo, há outra preocupação atual: perante sensação crescente de insegurança nas escolas, redes sociais seguem permitindo que se espalhem mensagens de ódio e ameaças contra estudantes e professores de todo o País. O Twitter, sobretudo, tem sido a mais ampla das vias para isso. A ponto de uma reunião entre representantes da empresa e o governo brasileiro ter sido classificada como "desconfortável" e "espantosa" pelas autoridades, uma vez que a plataforma não considerou problemática a livre divulgação de fotos de autores de massacres, afirmando que isso não seria apologia ao crime e tampouco contra as regras da rede.
Embora a pauta sobre regulação de plataformas seja polêmica o suficiente para horas de discussão, o que parece claro é o perigo que o atual modelo representa ao dar projeção à desinformação e conteúdos violentos visando engajamento e, consequentemente, maior faturamento. Diferentemente de um veículo de comunicação profissional, jornalístico, no qual há responsáveis pelo que é publicado e o comprometimento social é prezado, as redes sociais agem, de forma geral, esquivando-se destes pontos cruciais. Da forma como se portam, como terra de ninguém, o risco é permanente e incalculável.
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