Eduardo Allgayer Osorio
Um agro dependente do adubo importado
O Brasil, terceiro maior produtor e o segundo maior exportador mundial de grãos, é o único dos grandes players agrícolas a cultivar solos pobres em nutrientes. Com exceção de alguns solos dos estados sulinos, os demais têm baixa fertilidade natural.
Se até alguns anos atrás as terras férteis do Paraná tornaram esse estado o principal produtor de grãos, hoje o Mato Grosso, que tem solos de baixa fertilidade, assumiu esse protagonismo, dependendo da adubação para viabilizar boas colheitas. Seus solos, pela reduzida capacidade de retenção dos nutrientes, aproveitam menos os elementos contidos nos adubos aplicados (entre 15 a 50% do fósforo, de 40 a 50% do nitrogênio e de 50 a 70% do potássio).
O problema se agrava se considerado que 87% dos fertilizantes aplicados nas lavouras brasileiras são importados (95% do potássio, 80% do nitrogênio e 60% dos fosfatos), restando a nossa economia, fortemente apoiada no agro, vulnerável às oscilações do mercado internacional de adubos.
Com a guerra na Ucrânia, essa dependência exacerbou-se, já que da Rússia vem um terço dos fertilizantes que importamos, acendendo um sinal vermelho, especialmente se considerarmos que o adubo impacta fortemente o custo de produção (entre 20% e 40% do custo total).
E a solução não é fácil. A mineração do potássio brasileiro é mais difícil do que a do Leste Europeu, encarecendo-o em relação ao importado. Afora isso, no adubo nacional incide no preço final 8% de ICMS (o adubo importado é livre de impostos).
Para minorar essa dependência, o governo federal lançou, em março de 2022, o Plano Nacional de Fertilizantes, uma política de incentivo à produção nacional com metas de curto e longo prazo (até 2050), prevendo a atração de investimentos para a construção de fábricas de adubo no País.
A boa notícia vem da recente inauguração, pelo Grupo EuroChem, de um complexo produtor de adubos fosfatados, erguido na região do Triângulo Mineiro, com capacidade para produzir um milhão de toneladas por ano, estimando-se que, quando estiver em total operação, aumentará em 15% a produção nacional de adubos fosfatados.
Quanto aos fertilizantes potássicos, a empresa Potássio do Brasil conduz desde 2013, no Amazonas, o Projeto Autazes, aguardando dos órgãos ambientalistas a necessária licença de instalação e dos órgãos indigenistas o término da consulta ao povo Mura que ocupa áreas adjacentes a de mineração.
A ureia e outros adubos nitrogenados provêm do gás natural, requerendo para a sua produção uma grande quantidade de energia, tornando o produto nacional pouco competitivo. Pela notícia que se tem, os governos do Brasil e da Bolívia (possui uma das maiores reservas de gás natural das Américas) assinaram um memorando de entendimento visando realizar estudos para a construção de fábricas de fertilizantes nitrogenados nos dois países, devendo as fábricas brasileiras serem instaladas, uma em Três Lagoas (MS) pela Petrobras, e a outra em Cuiabá (MT).
São passos acanhados diante do tamanho das nossas necessidades. Mas, antes pouco do que nada.
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