Editorial
Um marco de tempos difíceis
A decisão formalizada ontem pela prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), de Pelotas, de promover a revogação conjunta de 91 decretos emitidos ao longo da pandemia do coronavírus tem, na prática, pouco efeito. Afinal de contas, com o cenário epidemiológico referente à Covid-19 controlado e o contágio pelo vírus em níveis baixíssimos, as tantas regras estabelecidas pelo poder público desde março de 2020 tornaram-se existentes apenas no papel, sem efeito prático no dia a dia da população. Há meses não se vê mais, por exemplo, a vigilância com relação a temas como disponibilidade e uso de álcool gel em estabelecimentos públicos e comerciais ou à restrição de aglomerações, por exemplo. Muito menos ainda quanto a normas ainda mais restritivas que chegaram a ser necessárias por tempo considerável.
Se não chega a ter reflexo objetivo neste momento, o "revogaço" serve vai além de uma medida burocrática necessária por parte do Município. Ajuda a população pelotense a recordar a gravidade de tudo que foi enfrentado desde que a Covid-19 passou a ser uma realidade presente. Embora não faça muito tempo que se tenha chegado à estabilidade atual, com a doença controlada graças à vacina e ao empenho de quem lutou contra o negacionismo, a normalidade por vezes pode fazer com que a crise que lotou hospitais caia no esquecimento.
Ao vermos a lista de 91 decretos municipais que perdem a validade a partir de agora, saltam aos olhos sobretudo as imagens de tempos difíceis. Momentos em que, para tentar evitar ainda mais mortes e infectados (muitos com graves sequelas), foi preciso que gestores adotassem ações extremas como proibição de atividades, distanciamento controlado e até mesmo lockdown. O que provocou disputas acirradas, inclusive no campo da politicagem. Algumas delas, recordemos, visivelmente baseadas em interesses mesquinhos, populistas e/ou classistas em detrimento do coletivo.
Neste momento em que, de alguma forma, Pelotas dá mais um passo no fechamento de um ciclo traumático de sua história por conta de uma pandemia mundial, é fundamental que o aprendizado permaneça. Se a emergência global, ao contrário do que se pensou, não serviu para tornar a sociedade melhor como se imaginava (ou torcia), que sirva ao menos para fortalecer a capacidade de diálogo e racionalidade em momentos extremos. Em respeito aos 1.623 pelotenses que foram vítimas fatais de um vírus que poderia - e deveria - ter sido levado mais a sério desde o começo.
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