Sergio Cruz Lima
Um "Midas brasileiro"?
Por Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Era uma vez um homem muito rico que vivia na Bahia. Mas não era por ser rico que ele despertava a admiração popular. Afinal, sempre existiram homens ricos e pobres. O que chamava a atenção de todos era a originalidade dos objetos de sua casa: todos da mais pura prata. Uma beleza! E como brilhava aquela prataria! Caramba! De onde viria tanta prata? Ninguém sabia. O homem se negava a contar o segredo da sua procedência. Porém, o povo desconfiava. Ele devia ter descoberto uma rica mina de prata. Mas onde? Precisavam descobrir. E como dizem que vox populi, vox Dei, o homem acabou por confessar. De fato, descobrira uma mina de prata, mas não revelaria a ninguém o lugar no qual ela se encontrava.
O tempo passou. O homem cansou de ser apenas rico e quis ser também nobre. Viajou à Europa para pedir ao rei o título cobiçado. Em troca, como na época Portugal e o Brasil estavam sob o domínio espanhol, ele prometia calçar todas as ruas madrileñas com prata brasileira. Queria ser Marquês das Minas. O monarca achou a pretensão absurda e ofereceu-lhe apenas a administração das minas que descobrisse. Ficou o dito pelo não dito. Mas o "Midas brasileiro" entendeu que se revelasse o lugar das minas, nunca mais as veria, pois o soberano as tomaria para si. Perseguido pelo emissário real, nosso herói teve que buscar refúgio no interior da Bahia, no sertão bravio, onde passou a viver. Ali morreu na mais negra miséria, sem contudo revelar o segredo das minas de prata que até hoje não foram descobertas. Esta é uma bela história contada por José de Alencar no livro As minas de prata.
Historicamente, o que se sabe sobre o assunto? Bem, entradas e bandeiras eram formas de penetração pelo hinterland brasileiro, com duplo fim: caça ao índio e procura de riquezas minerais. Mas ocorriam diferenças entre elas: as entradas eram organizadas pelo governo, ou por ele autorizadas, e não podiam ultrapassar o meridiano de Tordesilhas; as bandeiras, organizadas por particulares, e por eles financiadas, não respeitavam os limites traçados pelo Tratado de Tordesilhas, portanto atingiam terras espanholas. Assim, muitas terras que eram da Espanha acabaram por pertencer a Portugal. E hoje são brasileiras.
A entrada de Belchior Dias Morea afirmou ter encontrado minas de prata na serra de Itabaiana, na Bahia. Conta a tradição que faleceu sem revelar o local das minas descobertas porque o rei lhe negara o título de nobreza pretendido. Mas isso se provou ser mera lenda. Em verdade, Belchior contara onde achara a prata, mas qual não fora a decepção quando ao ser examinada a "prata" descoberta não passava de simples malacacheta. Era mais um sonho do Eldorado que se desvanecia, deixando apenas no imaginário do imortal escritor, um perfume que jamais morre, como se realmente tivesse existido o "Midas brasileiro".
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