Editorial

Walter, o homem

Após alguns dias da contratação de Walter, pelo Pelotas, ele estreou ontem com uma atuação apagada, com cerca de dez minutos em campo. Mas este Editorial não vem falar de Walter, o atleta, mas sim Walter Henrique da Silva, o homem. Todos sabem, ele acima de tudo, que sua forma física não é ideal para um atleta. Raramente foi, mesmo quando atuava com camisas do primeiro escalão do futebol brasileiro e tinha uns bons anos a menos. É algo que não mudou e dificilmente vai mudar.

A questão física de Walter levantou inúmeros debates ao longo dos anos. Quase sempre em um limiar entre ser cômico um atleta rechonchudo e críticas à falta de profissionalismo de alguém que deveria ser minimamente atlético. Foram muitas as abordagens sobre o porquê de Walter engordar. Consumo excessivo de fast food e até um vício, revelado pelo próprio, em bolachas recheadas e refrigerantes. Passou também pela abordagem da infância dele, e aí chegamos ao ponto delicado.

Walter passou por situações horríveis, beirou a fome em um local extremamente violento na periferia de Recife. Presenciou um homicídio. Perdeu o irmão. Perseverou e virou jogador, chegou a vestir a camisa da Seleção na base. “Sabe, tem dia que eu tô em casa, sem fazer nada, e aí eu começo a pensar em tudo isso. Saindo de onde saí, eu consegui, eu virei um jogador. Pode ter certeza de que eu valorizo cada vitória, cada gol, cada centavo, por causa de tudo que aconteceu comigo. Mas tem hora que eu acho que tô sonhando”, disse em uma entrevista há dez anos. Isso tudo talvez explique o Walter que conhecemos.

Mas Walter tem problemas com a balança e, por isso, sempre foi visto como uma figura folclórica. Chegou a Pelotas na semana passada e, mais uma vez, tem passado por constrangimentos. Novamente, o debate fica em um limiar entre críticas à má forma física de alguém que é um atleta profissional e realmente deveria estar em melhor situação e a gordofobia pura e simples. Vídeos dele em cada restaurante que vai, fazendo compras em supermercado ou simplesmente andando na rua viralizaram nos últimos dias. É uma pena. Não se espera acolhimento, longe disso. Mas o peso de Walter é uma questão pessoal dele e a parte profissional em que isso interfere tem a ver com seu empregador apenas.

O problema que o caso Walter expõe é o preconceito direto por questões estéticas, sendo algo ainda visto como cômico pela nossa sociedade, algo que não deveria mais existir. Sabe-se que sobrepeso envolve muitas questões de saúde, mas sabe-se também que tratar alguém como inferior por estar fora de uma forma “aceitável” é repugnante.

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