Incomparáveis

Amor de mãe: sinônimo de força em meio às dificuldades

Mulheres dividem histórias de luta e dedicação aos filhos durante internações hospitalares

Foto: Carlos Queiroz - DP - Aos dois meses e tratando uma bronquiolite, a pequena Maria Antonia é a dona da atenção da mãe Kerolaine

Mãe. No dicionário, substantivo feminino para aquela que gerou, deu à luz ou criou filhos. Nas palavras do poeta Mário Quintana, “três letras apenas, as desse nome bendito. Três letrinhas, nada mais… e nelas cabe o infinito”. Na prática, sinônimo de dedicação, amor e cuidado. Assim se definem as mães que lutam, com força e esperança, pela saúde dos filhos.

Na UTI Pediátrica do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP/UCPel), em Pelotas, a técnica em enfermagem Kerolaine Bento, 26, quase não sai do lado da pequena Maria Antônia, de dois meses. Por conta de uma bronquiolite aguda, a menina foi encaminhada de Santana do Livramento para ser internada em Pelotas. “Os três primeiros dias foram bem agonizantes, a gente quase perdeu ela, foi muito triste. Agora, eu fico dia e noite com ela, sempre do lado. Não consigo sair, é difícil. Até para sair para almoçar já fico com o coração na mão”, desabafa.

Esse não é o primeiro susto da mãe. A filha mais velha, agora com cinco anos, também precisou passar por internação aos seis meses por conta de apendicite. Mesmo com os sustos e preocupações, Kerolaine é enfática: ser mãe é a melhor coisa que aconteceu na vida. “Não tem explicação, mudou minha vida completamente. É a melhor coisa do mundo.”

A comemoração deste domingo vai ser diferente mas, segundo ela, o sentimento é de gratidão e esperança. “Espero que semana que vem a gente consiga ir pro quarto e que, no fim de semana, minha filha mais velha possa vir, pelo menos para eu ver ela um pouquinho. Vai ser um Dia das Mães diferente, mas para mim é gratificante porque minha filha está salva”, reflete.

Encontro de experiências

A poucos metros de onde Kerolaine está, um outro local também é abrigo para os sonhos e desafios da maternidade. Na Casa da Gestante, vinculada ao HUSFP, ficam as futuras mamães que, por questões de saúde, precisam ser acompanhadas de perto pela equipe médica. É o caso da dona de casa Elizandra da Silva, 27, que espera pela chegada de Amanda, sua quarta filha. “Estou com 31 semanas e vim para cá porque o bebê não está crescendo como deveria e estamos tentando descobrir o motivo”, explica.

Junto de Mayander, o filho mais novo, a mãe confessa a ansiedade que permeia a reta final da gravidez. “É um pouco preocupante, porque ela pode nascer prematura, mas estamos nos mantendo fortes. Meu sentimento [quando penso no futuro] é de olhar para nós duas juntas e dizer que venci, que sou guerreira”, conta. Para o Dia das Mães, a expectativa é estar junto dos filhos que, segundo Elizandra, representam a maior felicidade. “Com meus filhos vindo aqui e eu podendo ver eles, já fico mais tranquila e feliz. Para mim, é um amor que não tem explicação. A gente gera, cria. É um amor grande demais.”

Uma palavra amiga para o momento de luta de Elizandra vem de uma outra mãe que conhece bem a trajetória. A assistente social Luana Regina Farias, 40, esteve, entre 2018 e 2019, mais de 45 dias hospedada na Casa da Gestante. Na época, estava grávida de Manuela Vitória, hoje com quatro anos, e sofreu com um problema de coagulação chamado tromboflebite. Depois do parto, a mãe ainda precisou lidar com hemorragias, a perda do útero e a internação da filha recém-nascida. “Além do tempo aqui na Casa da Gestante, fiquei mais uns 18 dias no hospital. Quase morri, foi muito intenso e difícil. Temos uma trajetória bem longa no hospital, fizemos casa aqui”, relata.

Relembrando tudo que viveu, Luana divide a sensação de ter vencido a batalha. “Brinco com a Manu, e até fico emocionada, porque fico pensando o quanto valeu a pena. Ela está saudável e linda, e eu estou aqui, viva, com meus filhos”, conta a também mãe de outros dois filhos mais velhos.

A Elizandra e todas as mães que ainda vivem a rotina hospitalar, ela oferece um conselho. “Sempre tem que pensar que tu estás nessa situação pela tua saúde e da tua filha. Quando a gente está aqui dentro parece que é uma eternidade, mas quando tu estiver bem, com a tua filha no colo, vai pensar que tudo valeu a pena”, garante. Quanto ao sentimento da maternidade, a resposta não poderia ser diferente. “A gente não consegue descrever o amor, a gente sente. Pelos filhos é isso. É incondicional, vai além de nós mesmas. A palavra mãe é ‘cuidado’”.

Sobre a Casa da Gestante

Em atividade desde 2009, a Casa da Gestante é um espaço destinado a mulheres grávidas enfrentando patologias que oferecem riscos à saúde da mãe e do bebê e, portanto, precisam de cuidado mais direcionado. Conforme explica uma das técnicas da Casa, Camila Braga, a rotina no local é diferente de uma internação hospitalar comum.

“Aqui é tudo bem familiar e aconchegante. É uma casa mesmo. Tem cozinha, espaços de convivência e elas podem receber toda a família até as 22h, além do direito a uma acompanhante mulher à noite”, explica. Com 14 leitos disponíveis exclusivamente via SUS, atualmente a casa está com seis gestantes internadas.

Exames, ultrassons e controles de diabetes gestacional e quadros de pré-eclâmpsia são alguns dos atendimentos oferecidos pela equipe, que conta com técnicos, residentes e uma médica responsável. “É um cuidado diferenciado e único aqui na região. Um serviço que não é tão conhecido, mas é de extrema importância. A gente faz bastante diferença na vida das pessoas”, orgulha-se Camila.

A importância do apoio

Quem trabalha junto às gestantes e aos bebês hospitalizados garante a importância de um olhar atento, empático e cuidadoso. A assistente social e coordenadora do setor de serviço social do HUSFP, Carla Lemes, destaca o impacto do olhar multidisciplinar nestes momentos delicados. “Trabalhamos muito com acolhimento, escuta sensível e direcionamento do paciente para que suas necessidades sejam atendidas. Entendemos que o paciente precisa ser visto na sua totalidade. A gente trabalha muito, por exemplo, junto com a psicologia hospitalar para dar o suporte psicológico necessário para as gestantes”, comenta.

Carla estima que entre 60% e 70% de todo o trabalho desenvolvido pelo setor de serviço social seja destinado para a área materno-infantil. Enxovais, refeições, fraldas, material de higiene e roupas são alguns dos itens que podem ser fornecidos às mães que estão internadas ou têm seus bebês em tratamento. “Essas mães precisam ser cuidadas para poderem cuidar de seus bebês”, explica.

A mensagem é reforçada pela enfermeira Fabiana Fetter, que trabalha na UTI pediátrica. Segundo ela, a rotina é difícil, mas o olhar cuidadoso é fundamental já que a equipe se torne extensão da família. “Eles confiam muito na gente. Isso é importante para deixar mais confiantes. Até porque, muitas vezes, eles não conseguem ficar aqui sempre, então nós somos o braço direito dos pais nessa situação”, observa.

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