Nosso Bairro
Areal, uma das primeiras regiões a se desenvolver
Em dois séculos, a história do bairro e da cidade se fundem; do início dos anos 2000 para cá, Areal ajudou a fortalecer a descentralização
A partir deste final de semana, a bússola do Nosso Bairro estará apontada para o Areal. E para dar a largada no roteiro pelas diferentes localidades, o Diário Popular irá guiar-se pelos olhos e a experiência de Maria Olinda Barbosa, de 92 anos. Uma das moradoras mais antigas da Vila da Palha esbanja memória, cruza o tempo, destaca as transformações do local – que tem ligação direta com a origem do Areal – e menciona o que ainda precisa avançar. Serão seis matérias, até sexta-feira, com conteúdos que passam por infraestrutura, segurança, economia, cultura e esporte.
Melhorias surgiram a partir de investimentos públicos e privados (Foto: Carlos Queiroz - DP)
Não há dados que apontem ao certo a população atual do bairro. O número de habitantes, por região da cidade, ainda é o do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Portanto, a defasagem ultrapassa uma década. E, naquela época, eram 56.369 pessoas. Hoje, vários pontos, como o loteamento Dunas e o Corredor do Obelisco, seguem em expansão, com construções em andamento.
E se a formação do Areal remete ao século 19, junto à instalação do município, no século 21 o bairro ajudou a puxar um processo de descentralização. Em abril de 2005 o Foro passou a funcionar na avenida Ferreira Viana. Foi o primeiro passo para que em poucos anos estivesse estabelecido o Complexo do Judiciário, com diferentes órgãos e inclusive prédios para o funcionamento de escritórios, principalmente, de advogados. Na carona, vieram os investimentos na área comercial. Em outubro de 2013 inaugurava o Shopping Pelotas, com 38.275 metros quadrados de área construída e 145 lojas. Era mais um atrativo para fortalecer não só o bairro.
Com investimentos públicos e privados injetados por lá, natural que outras melhorias surgissem. E foi o que ocorreu: desde julho de 2016 o Areal passou a contar com a única Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. E não é uma estrutura qualquer. É uma das três pontas da rede de urgência e emergência com acolhimento 24 horas, assim como o Pronto-Socorro de Pelotas (PSP) e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Na vila da Palha, uma balsa para cruzar o Pelotas
A conversa flui e as lembranças brotam com nitidez. Ao chegar à Vila da Palha, nos anos 1960, logo Maria Olinda Barbosa entendeu o porquê do nome. Não existiam residências de alvenaria nem o uso de telhas. “Era tudo tapado com palha. A gente cortava junco, deixava secar e fazia a cobertura. E as casas eram de madeira”, conta. Não havia água encanada. O abastecimento era através de poço. Só depois, com o tempo, surgiu uma “bica” no fundo da rua, na beira do arroio Pelotas.“Isso aqui é muito bom. É uma família. É uma vila calma, todos se ajudam.”, diz dona Maria Olinda (Foto: Carlos Queiroz - DP)
Aliás, anos antes era de lá que partia a balsa que fazia a ligação com o outro lado, para que a população pudesse ter acesso à região do Laranjal e à Colônia de Pescadores Z-3. Isso antes da construção da primeira ponte sobre o arroio Pelotas. E com a vivência de quem também tinha morado na região da Estrada do Engenho, na localidade conhecida como Passo dos Negros, Maria Olinda lembra dessas duas alternativas de deslocamento à Z-3: ou a comunidade pegava a balsa na Vila da Palha ou ia de barco.
Local, na Vila da Palha, era de onde partia a balsa para que comunidade pudesse cruzar para o outro lado do arroio Pelotas (Foto: Carlos Queiroz - DP)
E quando se vê em meio a filhos, netos, bisnetos e tataranetos, compartilhando recordações, fica claro um sentimento: “Isso aqui é muito bom. É uma família. As pessoas vão embora pra outro lugar e, quando a gente vê, eles tão voltando”, afirma. E, embora ressalte avanços atuais como a instalação da iluminação em Led e da regularização oficial das terras, não deixa de pontuar dois aspectos que os moradores ainda aguardam ver resolvidos: esgoto – que possa eliminar as fossas – e calçamento. “Temos esperança que com um condomínio que parece que vai sair ali na Charqueada, saia o nosso calçamento. Aqui é pequeninho”, argumenta.
E como explicação à lucidez e à boa forma aos 92 anos, a lourenciana radicada em Pelotas sustenta: “É muita fé. É crer num Deus que tudo pode”.
Primeiras vias surgem também ali
O caráter histórico do bairro, por conta das charqueadas – e do desenvolvimento da indústria saladeiril – não está descolado do fato de o Areal ser uma das áreas de Pelotas onde foram criadas as primeiras vias. A Estrada de Cima era a hoje Domingos de Almeida. Já a Estrada de Baixo se transformaria na avenida Ferreira Viana. E o local que mais tarde virou a avenida São Francisco de Paula ficou conhecido como Corredor das Tropas; uma conexão entre o Passo dos Negros – às margens do canal São Gonçalo – e a região da Tablada, por onde passava o gado para comercialização.
Moradores comemoram iluminação em LED, mas aguardam calçamento e saneamento (Foto: Carlos Queiroz - DP)
“Justamente o fato de estar entre a cidade, o Laranjal e as charqueadas é que provoca o desenvolvimento posterior do bairro”, enfatiza o professor de Geografia do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal Pelotas (ICH-UFPel), Sidney Vieira, coordenador do Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais.
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