Estudo
Dependentes de internet
Pesquisa de mestranda da UCPel registra que metade dos estudantes do IFSul possuem dependência em internet; além disso, 80% dos entrevistados apresentaram sintomas de ansiedade ou depressão
Gabriel Huth -
Você já se sentiu nervoso na ausência do celular ou quando fica um certo tempo fora da internet? A sensação pode caracterizar um vício passível de tratamento psicológico. Em uma pesquisa realizada no Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) foi constatado que 50,6% dos estudantes possuem dependência em internet, seja através do computador ou de um telefone celular. Em outro dado, 80% dos entrevistados apresentaram sintomas de ansiedade ou depressão.
A amostra faz parte do trabalho de dissertação do mestrado em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente (UCPel) de Gisele Bartz de Ávila, 34, que atua como médica do IFSul. Foram 341 entrevistados entre os 4.083 alunos do Campus Pelotas, com idades entre 14 e 20 anos. Da taxa de 50,6%, 35,3% apresentaram dependência leve, com oito horas acessando a internet diariamente - 15,3% moderada/grave, com dez horas de uso. A média geral foi de sete horas diárias na internet, cuja grande maioria entra na rede através do celular. Seis horas ao total no computador ou celular foi o tempo atestado naqueles que não possuem dependência.
Os números mostram que o estudante do Instituto passa mais tempo na internet do que a média nacional. A Pesquisa Brasileira de Mídia 2016, divulgada pelo governo federal, verificou que adolescentes e adultos jovens de 16 a 24 anos usam a rede, em média, por seis horas e 17 minutos. Segundo Gisele, os adolescentes do IFSul, pelas características tecnológicas da instituição, necessitam estar em constante contato com a internet, fato que pode ter elevado o número de horas.
O questionário também demonstrou que os jovens buscam especialmente as redes sociais - 94% -, sendo que 80% usam a internet para trabalho ou estudo e 58% para ler informações e notícias. Maioria de classe média, os meninos do instituto têm mais da dependência moderada/grave do que meninas.
O achado mais relevante do estudo foi a quantidade alta de horas passadas na internet e a associação desse uso com sintomas depressivos ou ansiosos. Daqueles com indícios de depressão, grande maioria possuía quadro de predisposição genética ou já estava com acompanhamento psicológico em andamento. O percentual de 80,8% de presença desses sintomas indica, segundo a psiquiatra, que a população estudantil precisa dar maior atenção à sua saúde mental. "Como psiquiatra do IFSul atendo muitos quadros de ansiedade e depressão", afirma.
Desde que o acesso à internet ficou mais fácil e universal, o potencial para seu uso exagerado também surgiu, tornando-se problema de saúde - algo inimaginável há três décadas, por exemplo. A internet chegou no Brasil somente em 1988, através de incentivos do meio acadêmico. Para ser considerada um problema de saúde mental, a dependência deve estar associada ao sofrimento do usuário, de forma que o atrapalha. "É o padrão de uso compulsivo, capaz de gerar prejuízo ao indivíduo, como intolerância e abstinência na ausência do uso", explica Gisele.
Pra quem carrega o celular no bolso diariamente, qualquer oportunidade vira motivo para utilizar o aparelho. Uma ex-estudante do IFSul, de 19 anos, recém-formada em Comunicação Visual, fez parte da pesquisa e recebeu resultado de dependência leve. Ela decidiu buscar o tratamento pois sentia-se nervosa sem o celular. "Tinha medo de ficar por fora do que estava acontecendo", conta, já que, através da internet, o usuário pode consumir informações de forma rápida, além de ser uma fonte de interação social e de lazer. Hoje a ex-estudante faz acompanhamento psicológico e utiliza medicamentos antidepressivos. Como medida para apaziguar a dependência, tenta esquecer o dispositivo e busca outras formas de distração. "Tenho lido bastante", diz.
Para não virar dependente
Se há a suspeita de que o uso da internet se tornou exagerado e está trazendo transtornos para a vida do indivíduo, o ideal é procurar pela ajuda de um psicólogo ou psiquiatra e, então, passar por uma avaliação adequada. Para o tratamento é necessário avaliar se existem outros distúrbios e tratá-los, seja com terapia ou medicação.
A médica recomenda investir em atividades de lazer, no relacionamento com amigos e em alimentação e horários saudáveis, além de restringir o uso da internet a um limite e não ultrapassá-lo. "Se a pessoa investir num modo saudável de vida, não vai precisar ter a internet como válvula de escape", diz.
Conteúdo acessado
Redes sociais: 94%
Trabalho ou estudo: 80%
Informações ou notícias: 58%
Jogos: 43%
Sexo: 26%
Dependência
Uso considerado normal: 158
Dependência leve: 113
Dependência moderada/grave: 49
Total de entrevistados: 341
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