Alternativa
Hidrogênio verde é uma das apostas econômicas da região
Geração de energia limpa pode potencializar economicamente e ambientalmente o Estado a partir de Rio Grande
Divulgação - DP - Energias renováveis despontam como um dos principais potencializadores econômicos da região
Geração de energia para uso interno e exportação, criador de empregos e ambientalmente limpo. A produção de hidrogênio verde, ou seja, gerado por energias renováveis, vem despontando como um dos principais potencializadores econômicos da região. Muito pela localização privilegiada de Rio Grande, que conta com os pré-requisitos necessários: energia eólica, capacidade de produção offshore (no mar) e bastante disponibilidade de água. Agora, a expectativa é que a questão seja equilibrada, tanto entre futuros produtores quanto compradores, para andar de vez.
A secretária estadual de Meio Ambiente, Marjorie Kauffmann, diz que a iniciativa de repensar a matriz energética renovável, buscando fontes inovadoras e de potencial, foi motivo de um estudo, lançado no início do ano. “O Rio Grande do Sul enxerga no hidrogênio verde uma oportunidade de abertura de uma nova fonte econômica para o Estado, que traz atributos importantíssimos do ponto de vista ambiental.” O estudo aponta dez municípios com potencial de produção com custo compatível, entre eles Rio Grande, a que trouxe o menor custo. Outro fator que estimula é o aceno da Prefeitura de até mesmo substituir sua frota de veículos por uma movida por essa energia. Além do Município, o Estado tem assinado cartas de intenções com diversas companhias. A expectativa é que, em breve, Rio Grande tenha uma planta produzindo esse combustível. O impacto pode atingir, além dos transportes, outras indústrias. “São tecnologias que podem desenvolver a indústria metalmecânica do Rio Grande do Sul”, explica Marjorie.
O diretor-presidente da Portos RS, Cristiano Klinger, avalia o sul do Estado como de potencial muito grande para implementação pela proximidade com o Porto e capacidade da utilização dessa energia gerada pelo hidrogênio verde tanto para o consumo interno, nas indústrias e terminais portuários, além da exportação para o restante do mundo, em especial Europa. O Porto de Rio Grande, enquanto plataforma de logística, somado à capacidade das plantas offshore, colocam a região em posição estratégica. São diversas as companhias estudando, embora haja sigilo contratual nos memorandos de entendimento que não permitem abertura de detalhes. Recentemente, um convênio com o porto de Roterdã, na Holanda, envolvendo os governos dos dois países e 27 empresas dos Países Baixos, foi um demonstrativo do olhar que vem sendo recebido, segundo Klinger.
E o que falta?
Falta, ainda, a regulação para a aplicação das usinas eólica offshore, bem como a definição da cadeia limpa para ser considerada a produção do hidrogênio verde, isto é, de zero impacto ambiental. Esse caminho tem que ser bastante claro, segundo Klinger, para garantia da produção verde.
Já Marjorie ressalta que, a partir do estudo, há um plano de ação a ser executado, implementando a política estadual do hidrogênio verde. Ela diz que é importante que a população se aproprie do tema, já que considera um conjunto de fatores para sua execução, envolvendo empresas, universidades e outras entidades, além do Poder Público. Ela diz que outra questão importante são os subsídios do governo federal, bem como sua atuação para conseguir acordos comerciais com outros países. E cita haver otimismo pela percepção de empresas sobre o tema, como as refinarias, que estão caminhando para o consumo de energia limpa. “Acredito que nos próximos cinco anos a gente já vai poder ter pelo menos essas plantas-pilotos”, explica.
Mas o que é o hidrogênio verde?
Fernanda Trombetta, doutora em Química e pesquisadora da área de energias limpas na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), explica que o hidrogênio é um vetor com grande quantidade de energia dentro dele, que pode ser utilizada para a nova transição energética. Por não ser encontrado na natureza, precisa ser sintetizado, independente do fim. Atualmente, em grande escala, ele é produzido por matrizes de combustíveis fósseis – cerca de 98%. “Então, ele vem de uma fonte que polui o meio ambiente, que tem o CO2 [dióxido de carbono] como subproduto, e também tem o monóxido de carbono, que é um outro subproduto, dentro desse gás de hidrogênio que é produzido dessa forma”, explica. Para não ter os contaminantes, uma possibilidade é fazê-lo via eletrólise da água. Isso significa fazer um sistema com um recipiente de água, dois eletrodos e eles, ligados a uma fonte de energia, fazem com que a água (H2O) se rompa e um eletrodo produza o hidrogênio (H) e outro oxigênio (O2).
Um dos sistemas é a fonte de energia e sua viabilidade, mas com o avanço que houve em célula solar e energia eólica, tanto em tecnologia quanto em aplicabilidade, se vê um panorama novo para o sistema de eletrólise da água. Como o Rio Grande do Sul tem grande quantidade de parques eólicos e potencial de energia vinda do sol, na região o movimento passa a ser de utilizar o Porto de Rio Grande, com grandes aerogeradores, realizando o processo. Esses são os offshores. Assim, usam a água do mar, rica em íons, para formar o hidrogênio e exportá-lo ou levá-lo para uma indústria. “Como o Rio Grande do Sul tem o ambiente climático favorável, a gente tem grandes expectativas dessa nova possibilidade de energia, que é totalmente limpa”, explica.
Como assim, totalmente limpa?
O sistema marinho gera o hidrogênio, e ele não tem nenhum subproduto ou poluente. A especialista diz que a tecnologia é viável do ponto de vista ambiental e tem capacidade energética significativa frente a outros combustíveis. “A molécula de hidrogênio tem uma energia muito maior do que, por exemplo, uma gasolina”, compara. Essa tecnologia tem grau nove de maturação tecnológica, sendo altamente viável. Falta, agora, encaminhamentos para se criar uma política de Estado competitiva. Ela ressalta que é necessário juntar forças para essa transição energética ser concluída e, entre outras coisas, aliviar o desgaste do meio ambiente.
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