Falta de recursos

Hospitais filantrópicos de Pelotas somam déficit mensal de R$3 milhões

Em coletiva de imprensa, representantes das instituições relataram situação financeira delicada e pediram auxílio do poder público

Foto: Rodrigo Chagas - Ascom - Pós-pandemia gerou aumento da demanda de serviços, disse a prefeita Paula Mascarenhas (PSDB)

Déficit milionário e risco de fechamento de serviços. Essa é a situação atual dos hospitais filantrópicos de Pelotas. Em uma mobilização conjunta inédita, as quatro instituições pelotenses estão unidas para buscar soluções para o déficit mensal que, na soma, totaliza cerca de R$3 milhões. Nesta quarta-feira (27), representantes do Hospital Espírita de Pelotas (HEP), da Beneficência Portuguesa, da Santa Casa e do Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) se reuniram com a imprensa para destacar a urgência da situação.

Liderado pelo diretor executivo da Beneficência, Armando Manduca da Rocha, o grupo se juntou para pedir providências para suprir os problemas financeiros das instituições, causados principalmente pelo subfinanciamento dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). "Os hospitais, em 2019, começaram a enfrentar dificuldades pelos pagamentos insuficientes que o SUS realiza pela prestação de serviços", explica Manduca. Após a pandemia, o cenário se agravou ainda mais. "Os hospitais estão trabalhando com prejuízo insustentável. Estamos buscando recursos no Município, no Estado e também na área federal. Não adianta vir uma esmola para pagar o prejuízo de um ou dois meses. Precisamos de sustentabilidade. Estamos correndo risco de desassistir a comunidade", destaca. Por ano, os quatro hospitais são responsáveis por cerca de 40 mil internações de pacientes da cidade e de toda a região.

A prefeita Paula Mascarenhas (PSDB), a secretária de saúde, Roberta Paganini, e o vereador Rafael Amaral (PP) também participaram da coletiva. Na oportunidade, a prefeita apontou problemas do pós-pandemia, como a demanda maior pelos serviços SUS, o aumento de demanda por serviços mais caros e o aumento dos custos hospitalares como outras causas do agravamento da situação financeira das instituições. Segundo ela, apesar da urgência do problema, não há possibilidade de mais destinação de recursos do Município. "O Município está no limite. Na situação atual, não temos para onde avançar nos recursos municipais. Por isso estamos do lado dos hospitais para buscar alternativas em outros entes", comenta. O tema já foi discutido com o governo do Estado e, no futuro, também deve ser levado pelo grupo ao Ministério da Saúde, em Brasília.

Beneficência Portuguesa
Déficit mensal: cerca de R$634,3 mil
Para Manduca, os efeitos do déficit orçamentário já atingiram duramente os serviços da Beneficência. Já foram 200 funcionários demitidos e, atualmente, 26 quartos se encontram fechados na instituição. "Estamos enfrentando uma situação nunca antes enfrentada, depois de uma pandemia onde o nosso Município foi modelo de atendimento à saúde. Isso teve um custo elevado para nossas instituições. Nós salvamos as pessoas que estiveram em nossas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e hoje, quem está na UTI, são as instituições", lamenta o diretor.


Santa Casa
Déficit mensal: cerca de R$1 milhão
Para o diretor financeiro da Santa Casa, Sebastião Kae, a conta é simples: a instituição, assim como as outras, recebe menos do que gasta com os atendimentos via SUS. "A cada R$ 100 que eu gasto com o SUS, eu recebo R$ 60. A operação me dá um prejuízo de 40%. Neste ano [de janeiro a julho], o SUS já nos deu R$12 milhões de prejuízo", resume. Já o diretor administrativo, Régis Pinto, explica que as internações clínicas são as que mais dão prejuízo ao hospital. "É aquele paciente que vem do Pronto-Socorro, que é muito debilitado e de alto custo de tratamento. O custo da diária do SUS, de tudo que a gente gasta, não cobre a despesa desse paciente", observa. Nos setores de nefrologia, oncologia e cardiologia, que requerem diferentes etapas de exames, tratamentos e até de cirurgias, a situação é a mesma.

Hospital Espírita
Déficit mensal: cerca de R$180,4 mil
O administrador do HEP, Tiago Martinato, avalia que, em um cenário onde não haja melhora na destinação de recursos, a instituição precisaria reduzir leitos até o limite da filantropia ou migrar para um formato de atendimento gratuito, sem SUS, para buscar a isenção de tributos. "Isso reduziria muito a oferta de serviços à população. O hospital provavelmente não atenderia mais dependência química, por exemplo. Isso causaria um problema grave porque o tratamento da dependência química não trata só a saúde, mas também questões de natureza social e segurança pública", exemplifica. Martinato afirma que o déficit atual é insustentável e destaca os efeitos que podem chegar à comunidade caso nada mude. "O acesso à saúde seria muito maior para quem tem condições de pagar. Isso pode acabar acontecendo com todos os hospitais, não só o nosso. Porque os hospitais vão acabar reduzindo leitos SUS. Isso é horrível", lamenta.

São Francisco de Paula
Déficit mensal: cerca de R$1,1 milhão
O diretor geral do HUSFP, Márcio Slaviero, explica que, apesar de ter enfrentado três anos seguidos com déficit anual na casa de R$10 milhões, o hospital ainda não fechou nenhum de seus serviços. Entre as linhas de cuidado oferecidas, as Unidades de Tratamento Intensivo são as que mais causam prejuízo, em especial as infantis. "Só a UTI pediátrica, junto com a UTI neonatal, geram praticamente R$500 mil de déficit mensal. O eixo materno-infantil é muito caro", observa. Segundo ele, não há, por enquanto, fechamento de serviços previsto. "Nada disso ainda foi oficialmente encaminhado para algum fechamento, mas a gente traz esse assunto como um risco porque é aonde tem o maior déficit e é nesse sentido que estamos pedindo esse suporte recorrente de recursos", observa Slaviero.

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