Redução
Inflação deve recuar em 2017
Cientista político e economista fazem projeções de seus respectivos segmentos para o próximo ano
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Não existe qualquer indício e muito menos evidência de que em 2017 sejam superadas as duas principais crises contemporâneas no Brasil: a econômica e a política, avalia o doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), Hemerson Luiz Pase. Em seu entender, o próximo ano será muito difícil, pois nada indica que a economia vai se recuperar e a reforma trabalhista planejada deve retirar direitos dos trabalhadores, empobrecendo-os. O economista e coordenador do MBE em Controladoria e Finanças da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), professor Ezequiel Megiato, diz, no entanto, que a inflação deve recuar, o que é bom para a população.
Ainda segundo Pase, o presidente Michel Temer (PMDB) e o governador José Ivo Sartori (PMDB) têm conseguido implementar com folga a sua agenda, contudo, como é muito recessiva, a tendência é que em 2017 as mobilizações de rua voltem à carga, particularmente contra o presidente Temer, cuja aprovação tem caído drasticamente.
O doutor em Ciência Política salienta que qualquer projeção futura é completamente arriscada, posto que é impossível controlar todas as variáveis que interferem na política. Contudo, para ele, os novos prefeitos, com poucos recursos, terão dificuldade de governar, particularmente no que tange às políticas sociais básicas, objeto da PEC 55, saúde, educação e segurança. Diz que a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), tem uma situação menos desconfortável, pois foi a candidata da atual administração, o que significa não haver descontinuidade, ou seja, terá obrigação de manter e concluir obras e programas iniciados.
O impeachment da presidente Dilma, “sem fato originário, dado a pretexto do conjunto da obra”, em sua opinião não produziu o resultado apregoado, ou seja a superação da crise econômica. “Quando Dilma foi deposta existiam 13 milhões de desempregados, hoje temos mais de 20 milhões no país”, acentua.
A relação entre os três poderes do sistema político brasileiro - Executivo, Legislativo e Judiciário -tende a continuar sendo pautada por outras instituições que têm aumentado fortemente seu poder de influência. Ainda para o cientista político, caso Temer consiga chegar ao final do mandato (a dúvida ocorre em razão do processo em tramitação no TSE que pode desaprovar as contas da chapa Dilma e Temer e o fato do nome do presidente aparecer fortemente nas delações da Odebrecht), a agenda proposta pelo programa Ponte para o Futuro tende a atuar no sentido de diminuir a presença do Estado e, por consequência, aumentar a desigualdade social, a pobreza e a ignorância. “Vide a PEC 55, recentemente aprovada, que limita os gastos do governo federal por 20 anos”, fala.
Conforme Pase, o grande tema do momento no Brasil é o combate à corrupção. “O engano é de uma profundidade terrível, pois a corrupção não é privilégio brasileiro e sim uma característica humana. E não se acaba com a corrupção. É preciso sim construir mecanismos para evitá-la, controlá-la e, quando ocorre, penalizá-la”, enfatiza. Acrescenta que, de outro lado, o combate à corrupção no Brasil esconde os principais males da sociedade, que são a desigualdade social e a concentração de renda e riqueza.
A política influencia a vida da população de forma determinante e quando são desenvolvidas políticas de bem-estar, como o SUS ou o Bolsa Família, a população mais pobre sofre menos; já quando desenvolvidas políticas neoliberais, como o aumento da jornada de trabalho, retirada do poder do Estado de arbitrar os conflitos entre patrões e empregados, os mais pobres e os trabalhadores perdem bastante, acentua.
É preciso reduzir, enfatiza economista
O economista e coordenador do MBE em Controladoria e Finanças da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), professor Ezequiel Megiato, projeta um 2017 “menos pior” que 2016 no campo econômico. “Vivemos a pior recessão da história do Brasil. Os níveis de confiança do consumidor e dos investidores e empresas chegaram ao fundo do poço na metade do ano. Com a retomada de uma política econômica rígida no eixo fiscal e cuidadosa e previsível na área monetária, vemos que a confiança começa a ser retomada”, comenta.
Entretanto, essa confiança ainda não se refletiu em retomada de investimento, mas é ideal para que ele aconteça. Como a equipe econômica está tomando medidas de longo prazo, como a PEC dos gastos, que na verdade suaviza o ajuste fiscal, as ações de curto prazo ainda são aguardadas. Como ação urgente, destaca a questão do desemprego. Projeta que é muito provável que aumentem os níveis de desocupação ainda no início de 2017. Essa reversão, entretanto, é esperada para a segunda metade do ano.
A boa notícia é que a inflação poderá ficar próxima do centro da meta, de 4,5%, o que é bom, destaca. Ruim é o fato que está fazendo a inflação recuar: ninguém está consumindo nada e, com a minirreforma trabalhista que prevê redução de carga horária com redução de salário, que na verdade é uma medida para manter as pessoas empregadas, isso pode piorar ainda mais. Avalia que o governo precisa, de maneira urgente, reduzir impostos.
“Sei que é estranho dizer isso, uma vez que o governo gasta mais do que arrecada. Mas a saída da crise passa por uma revisão, fundamentalmente, na estrutura de impostos. Qualquer pessoa que quer empreender arranca o seu negócio tendo o governo como sócio, é um peso e um tremendo inibidor de investimento”, diz. Ainda na questão de impostos, acredita que o governo precisa rever com urgência a tabela de Imposto de Renda, que tem sufocado a classe média.
(Foto: Divulgação - DP) Economista vê medidas adotatas por Sartori (foto) como insuficientes
Crise gaúcha é ainda pior
A economia gaúcha, para Megiato, sofre uma crise pior do que a crise nacional, uma vez que os mecanismos de saída são inexistentes ou superlimitados. “O Rio Grande do Sul, no decorrer dos anos, empobreceu e continuou gastando como se rico fosse. As ações tomadas pelo governo estadual em 2016, polêmicas e contestadas por algumas linhas do pensamento econômico, em minha opinião são um choque de realidade mas, ainda assim, insuficientes para resolver o problema”, afirma.
Acredita que a questão no Estado, assim como nos demais, se resolverá plenamente a partir de um novo pacto federativo, em que se defina a função da União, dos estados e dos municípios, principalmente, a partir de uma nova estruturação tributária. A União não pode concentrar a maior parte dos recursos em detrimento dos estados e municípios.
(Foto: Divulgação - DP) Para o cientista político, Temer deve ser o maior alvo das mobilizações populares
Um cenário menos pessimista
A eleição de Donald Trump, somada ao Brexit, significa que o multilateralismo está em ruínas. Trump afirmou durante a campanha que iria governar para os Estados Unidos, como forma de recuperar a economia e os empregos norte-americanos. Em resumo: adotará, se preciso for, medidas protecionistas, muito parecidas com as que o Brasil adota. “É interessante lembrar que o Brasil é um dos países mais protecionistas do mundo”, observa.
Em termos de comércio com os EUA, o Brasil pode perder alguma coisa, porém não deverá ser significativo. Megiato lembra que que pós 2000 o Brasil voltou-se à China, ao Mercosul e a outros mercados, diminuindo significativamente o comércio bilateral com os EUA. Mais de 50% de nossas exportações para os EUA são de produtos com média ou baixa tecnologia, o que é bom, pois sustenta a indústria brasileira, enquanto as exportações do país para China são de produtos primários, ou seja, com baixo ou zero incremento tecnológico ou industrial.
Ainda assim, avalia o economista, o cenário para 2017 é menos pessimista que o de 2016 e é crucial que o governo acerte nas medidas, pois se errar, corre o risco de perder o que de mais valioso e efetivo se tem até agora, a confiança.
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