Educação
Método de ensino tem brincadeiras como forma de aprendizagem
Método Montessori desenvolve a autonomia e a capacidade criativa dos pequenos
Foto: Italo Santos - Especial - DP - O método é considerado uma abordagem inovadora e eficaz para a educação infantil
A metodologia de ensino que estimula a independência e a liberdade pessoal das crianças, mesmo aquelas com algum tipo de limitação natural para o desenvolvimento físico, social e psicológico, permite a Otávio, de cinco anos e com Transtorno de Espectro Autista (TEA), ousar diante de uma peça de madeira, onde a proposta inicial ou tradicional é montar o quebra-cabeça, conforme o formato. Mas ele decidiu que a onça e o jacaré (ambos na cor amarela) tinham que travar uma luta. Já o elefante e a vaquinha não fazem parte do embate, pois são da cor branca. Assim, o pequeno aluno da Escola Montessori de Pelotas, criou uma forma nova de brincar e desenvolver a imaginação. “Eu gosto muito das atividades e da hora do lanche”, revelou ele após corrigir a reportagem sobre a origem do brinquedo. “O quebra-cabeças não é meu, é da escola”.
Em um ambiente preparado, o Montessori permite às crianças o acesso a materiais e atividades que são projetados para desenvolver habilidades específicas e promover a autonomia. Embora tenha sido descoberto há cem anos, ainda é considerado uma abordagem inovadora e eficaz para a educação infantil. Aline Lemos, mãe do Otávio, conta que buscava uma escola que proporcionasse além da educação, proposta pedagógica, espaço físico adequado, qualificação da equipe, flexibilidade de horários, atividades extracurriculares, entre outros. Para ela, a autonomia, a liberdade individual e o espaço acolhedor são muito importantes. “Posso afirmar que a equipe Montessori foi e continua sendo essencial no desenvolvimento do meu filho Otávio, pois descobrimos juntos que ele é uma criança especial, diagnosticada com o espectro autista. A partir de então, compartilhamos todas as conquistas dele.”
Alvo de estudo
Mesmo após um século de sua descoberta, o método ainda gera debates. O Grupo de Estudos Educação para a Paz sob a perspectiva Montessoriana, da Faculdade de Educação (FeE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), recentemente promoveu um diálogo formativo com as redes de ensino que objetivou compartilhar conhecimentos construídos para colaborar com proposições e práticas pedagógicas do método e ainda fortalecer o sentido social da ação educativa, contribuindo assim na formação docente, fundamental para as escolas que buscam equipes qualificadas.
Para as professoras da FaE, Helenara Plaszewski e Elisa dos Santos Vanti, a abordagem montessoriana sempre esteve e está em constante processo de evolução porque baseia-se na observação da criança concreta e na pedagogia científica, validada pela investigação sobre a ação e interação delas com o seu universo cultural. “A perspectiva montessoriana assenta-se numa abordagem participativa que tem como base o entendimento da criança como um sujeito livre, autônomo, protagonista, ativo e partícipe de sua própria aprendizagem”, ressaltou Helenara. Segundo as professoras, o método tem um caráter universal e inclusivo, atendendo todas as crianças em suas individualidades.
O olhar inclusivo
A responsável pela descoberta, a italiana Maria Montessori, já tinha um olhar sensível para a inclusão. Conforme as pesquisadoras, ela buscou aporte para a ideia de períodos sensíveis e de mente absorvente, demonstrando que existem portais em determinados períodos do desenvolvimento humano que acessam aprendizagens específicas. “Uma ideia de plasticidade do cérebro infantil que traça paralelos significativos com as contribuições da neurociência contemporânea.”
Na sala do Otávio, do Pré 1, ele divide espaço com o João Vicente, o Benjamin, o Benício, a Antônia, a Hellena, a Lauren e o Lorenzo, sendo que em nenhuma cadeira tem o nome do aluno, pois o costume é se organizarem socialmente com escolhas para brinquedos lúdicos ou o espaço que quer ocupar. A diretora da escola, com 13 anos de atividade em Pelotas, Raquel Radmann Domingues, explica que cada aluno tem sua análise individual, mas todo trabalho proposto é desenvolvido entre todos os colegas, para trabalhar a inclusão e o compartilhamento. “Também desenvolvemos a educação sensorial, o aspecto afetivo, cognitivo e a motricidade dos bebês e das crianças”, destacou.
Ela revela que muitas pessoas imaginam que o método é colocar uma toalha no chão e as crianças ficarem livres para fazer o que quiserem. “Nós seguimos as normas da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e, claro, desenvolvemos questões de responsabilidade, como o projeto de regras do Maternal 2, sendo que, por ser tratar da idade da birra, cada criança resolve seus conflitos sozinha, sempre com empatia, e com uma mediadora ou orientadora.
Além da sala de aula
Para manter os alunos longe das telas e telinhas, o método montessori propõe ainda atividades são propostas para serem feitas em casa, junto aos pais e aos avós, com o intuito de nutrir o cuidado e o afeto. Já da horta, onde todos interagem, sai o suco de couve, experimentado na hora do lanche.
Se a questão é desenvolver a fala de um aluno, todos vão brincar de bolinha de sabão ou encher balões. Para a criançada, tudo é aprendizado e divertimento, em um espaço harmônico e respeitado. Em Pelotas, a Escola Infantil particular Upiá é inspirada no método montessori. Já a diretora executiva da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Clotilde Victoria, explica que de forma oficial não se tem, mas conceitos e concepções estão presentes em algumas práticas. “Se considerarmos a essência montessoriana, tem relação com o que é proposto pelo percurso Formativo dos Pátios Naturalizados”, disse.
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