História

Poucos anos de história, mas já na rota de figuras ilustres

Viajantes como o botânico francês Auguste de Saint-Hilaire hospedaram-se na freguesia, considerada próspera

O naturalista francês teve 18 dias para analisar a região. Desembarcou na vila de Rio Grande em 28 de agosto de 1820 e ao mencionar a intenção de se dirigir à freguesia de São Francisco de Paula, escreveu: Tenho o projeto de ir daqui, por água, a uma aldeia nova e muito florescente situada junto ao rio São Gonçalo, canal que liga a Lagoa Mirim a dos Patos. Auguste de Saint-Hilaire registrou todas as observações em forma de diário e os apontamentos foram transformados no livro Viagem ao Rio Grande do Sul, exposto aos visitantes no quarto que o acolheu na atual Charqueada São João.

Até hoje, 202 anos depois, a passagem de Saint-Hilaire segue como uma das mais marcantes entre as figuras ilustres que já passaram por estas terras. O botânico fez relato minucioso daqueles primeiros tempos do povoamento, ao descrever a localidade de ruas largas e retas como próspera. Admirou-se com as casas, o comércio do charque e do couro e as embarcações. O europeu, que vinha percorrendo diferentes pontos do Brasil desde 1816, também rendeu vários elogios ao anfitrião Antônio José Gonçalves Chaves.

A visita ganhou, inclusive, capítulo no livro Pelotas: toda a prosa - Primeiro volume (1809 - 1871), em que o historiador Mario Osorio Magalhães apresenta 17 nomes que estiveram ou se estabeleceram na Princesa do Sul. Nas 15 páginas dedicadas a Saint Hilaire, destaque às impressões do botânico sobre Gonçalves Chaves, homem culto, que falava Latim e Francês e fazia leituras de História Natural - mencionava nas anotações do diário. O viajante também falava na diversidade do pomar do casarão, na fortuna do charqueador, então avaliada em 600 mil francos, e enfatizava a média anual de animais abatidos na freguesia: cerca de 20 mil.

Olhar direcionado à dinâmica da produção de charque

Nas memórias de 6 de setembro, Auguste de Saint-Hilaire descreveu a atividade na charqueada: o método, o tempo de produção e os destinos principais da exportação: Rio de Janeiro, Bahia e Havana, onde serve de alimento para os negros. A forma como os escravizados eram tratados também mereceu descrição do francês.

... Nas charqueadas os negros são tratados com rudeza. O sr. Chaves, tido como um dos charqueadores mais humanos, só fala aos seus escravos com exagerada severidade, no que é imitado por sua mulher; os escravos parecem tremer diante dos seus donos. Há sempre na sala um pequeno negro, de 10 a 12 anos, cuja função é ir chamar os outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança. Nunca se assenta, jamais sorri, em tempo algum brinca! ... À noite, chega-lhe o sono, e quando não há ninguém na sala cai de joelhos para poder dormir. Não é esta casa a única que usa esse impiedoso sistema: ele é frequente em outras.

Você sabia?

- O pesquisador não pisou apenas em solo gaúcho. O naturalista permaneceu no Brasil exatamente no período pré e pós-Independência, entre 1816 e 1822. Ao longo destes anos, observou espécies do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Paraná e Santa Catarina. Chegou a estar na nascente do rio São Francisco.

- Em Pelotas, Saint-Hilaire foi homenageado, inclusive, com nome de linha de ônibus do bairro Areal, onde está localizada a charqueada onde ficou hospedado em 1820.
- Havia uma forte ligação entre Pelotas e a capital do Império. Algumas famílias veraneavam por lá. Outras radicavam-se no Rio de Janeiro, inclusive, a de Amélia Hartley de Brito Antunes Maciel, a Baronesa dos Três Serros.

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Pelotas 210 anos

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