Educação
Refeitórios desfalcados na rede escolar municipal
Nas mesas dos educandários pelotenses, há falta de alguns produtos básicos
Carlos Queiroz -
É com dificuldade que a grande maioria das escolas da rede municipal de educação de Pelotas tem conseguido suprir a demanda de alimentação dos alunos. O cardápio, elaborado por uma nutricionista e distribuído pela Secretaria de Educação e Desporto (Smed), que equilibra lanches e refeições ao longo da semana, precisa ser adaptado e alterado com frequência em função da falta de itens básicos para a elaboração da merenda. Instalado há meses, o problema atinge também as escolas de Educação Infantil. Alegando contratempos licitatórios, a Secretaria afirma trabalhar em um pregão eletrônico ainda para a próxima semana, a fim de solucionar o caso.
Em contato com as escolas, a reportagem do Diário Popular ouviu quase que unanimemente o mesmo discurso. Itens como arroz, massa, feijão e carnes não são o problema, mas açúcar, leite, achocolatado, bolachas e temperos faltam em praticamente todos os educandários. Em muitos locais, é do bolso dos próprios diretores e professores que são comprados os itens. Outros pedem doações a pais e comunidade. Adaptam como podem, alteram dentro do possível. O esforço para servir algo, mesmo que longe do ideal, é enorme e muitas vezes acaba não sendo o suficiente. Frente à falta de alimentos, uma escola optou por fazer turno reduzido durante a última semana. Em outra, a diretora, que prefere não se identificar, relatou chegar ao extremo de não servir merenda em função da ausência de mantimentos. “Andamos recebendo café, mas não temos açúcar. Tampouco leite. Como vou servir café preto e sem açúcar para as crianças? Como peço para trazer de casa se muitas destas estão em vulnerabilidade social?”, desabafa.
O problema, que se arrasta há meses e é algo recorrente na rede escolar, foi denunciado ao Conselho da Merenda e também ao da Educação, segundo a presidente do Simp, Tatiane Rodrigues. O sindicato apurou a situação das escolas, inclusive nas de Educação Infantil, e encaminhou questionamentos à Smed. Pela avaliação de Tatiane e ainda por conversas com educadores e diretores, a perspectiva é de que o problema se estenda até o final do ano em função da falta de agilidade em resolvê-lo.
Nas mãos da burocracia
Questionado pela reportagem, o secretário de Educação José Francisco Madruga da Conceição explicou que a falta de alimentos se dá em função da quebra constante do contrato de licitação por parte das empresas vencedoras do processo. Isto acontece, segundo Conceição, em função do aumento do valor dos artigos, que são licitados separadamente e, portanto, supridos por diferentes fornecedores. “Eu tenho um determinado produto licitado ao preço x, mas com a variação de preços e inflação, hoje, na gôndola, ele está mais do x e então as empresas já se recusam a entregar”, explica.
Já a demora em solucionar o caso é atribuída à burocracia envolvendo prazos e documentos para o lançamento de novos processos. Em função disto, Conceição diz que a pasta trabalha em um pregão eletrônico, onde as propostas e os lances são apresentados por meio de recursos de tecnologia da informação, ou lances eletrônicos, para a próxima semana.
Uma nova forma de pensar e funcionar o sistema de abastecimento de alimentos das escolas pelotenses precisa surgir com urgência, defende a presidente do Simp. Para ela, o formato atual permite tais falhas e deixa vulnerável tanto as crianças e os adolescentes quanto a própria comunidade. De acordo com Conceição, esta mudança é possível e já começa a ser discutida. “Estamos fazendo algumas reuniões e abordando o tema. É meu desejo que fique para os próximos anos um novo modelo que se antecipe a situações como estas, para que se tenha sempre alimento nas escolas.”
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