DP 127 anos
Uma região privilegiada, mas ainda carente de investimentos
Boa malha rodoviária, portos e aeroportos são os trunfos, mas especialistas afirmam que a Zona Sul precisa de mais investimentos - públicos e privados - para melhorar sua infraestrutura e capacidade de investimento
Agosto de 1967. O então prefeito de Pelotas, Edmar Fetter, discute com o governo federal a liberação de recursos para 15 cidades que integravam, naquele momento, a Associação dos Municípios da Zona Sul (Azonasul). Melhorias no acesso ao Porto de Rio Grande, a construção do Contorno de Pelotas e a instalação de redes elétricas em áreas rurais estavam na pauta. Basicamente, necessidades de infraestrutura.
Passados tantos anos, a realidade mudou. Além de contar com seus portos batendo recordes de movimentação, com o entorno rodoviário pelotense sendo concluído e produtores tendo acesso à energia no campo, o Sul do Estado seguiu a tendência nacional e obteve grandes avanços sociais que se refletiram no aumento do Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (Idese), que passou de 0,575 para 0,686 em 15 anos. A relevância regional para a economia gaúcha também subiu alguns degraus desde 2001: salto de 244% no Produto Interno Bruto (PIB) para chegar aos atuais R$ 19,3 bilhões, crescimento de 75% na arrecadação de ICMS, captação de 77 vezes mais ISSQN nas prefeituras e renda per capita 3,6 vezes maior (de R$ 4,7 mil para R$ 17,1 mil).
Diante desses indicadores, mas ainda aquém de outras regiões do RS, será que os 886,6 mil habitantes da Zona Sul têm motivos para ver a infraestrutura como uma barreira ao desenvolvimento? E, afinal, o que é possível estimar para os próximos anos com vistas a garantirmos uma evolução contínua e sustentável?
Ao completar 127 anos, o Diário Popular reafirma seu compromisso com a Zona Sul e parte em busca dessas respostas. Nossa equipe conversou com políticos, pesquisadores, empresários e trabalhadores para traçar o diagnóstico regional que você verá nas próximas páginas e também para apontar caminhos possíveis - e necessários - para a economia local.
Vocação sem esquecer a inovação
Se fatiarmos a região em duas partes de acordo com a origem das riquezas dos municípios, teremos sobre a mesa realidades completamente diferentes. Enquanto Pelotas ocupa a quinta posição no ranking da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Estado, quando o assunto é o setor de serviços, Rio Grande se destaca como oitava da lista na área industrial, sendo a única da Zona Sul entre as dez primeiras. Juntas, as cidades acumulam 69% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) da Zona Sul baseadas sobretudo nestes setores.
Por outro lado, quando os olhares se voltam para os municípios menores, aí surge a força do campo. Santa Vitória do Palmar e Canguçu ilustram bem, já que ambas despontam ao fazer parte do top dez da FEE no quesito Valor Adicionado Bruto (VAB) da agropecuária. Entre pessoas contratadas com carteira assinada, as duas sozinhas somam mais de três mil trabalhadores na zona rural. Porém, o número de produtores no campo é muito maior, pois somente Canguçu - a cidade com maior número de minifúndios das Américas - possui 17,3 mil pequenas propriedades familiares, conforme dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Para o economista Ezequiel Megiato, essa divisão dos exemplos deixa claro que, pensando no conjunto de toda a região, o agronegócio pode ser considerado a principal vocação econômica. Entretanto, Pelotas e Rio Grande continuam sendo a locomotiva da Zona Sul. “São cidades de serviços e precisam apostar muito nisso. Não está no nosso horizonte a industrialização e é fundamental dar atenção e estimular esse potencial regional da produção rural”, avalia.
Boas amostras de como o campo pode render ainda mais dividendos estão em culturas recentemente adotadas, como a vitivinicultura e o plantio de azeitonas. Aqui no Sul do RS já são R$ 40 milhões aplicados no plantio de dois mil hectares de oliveiras que geram mais de mil empregos. Jaguarão, Piratini, Canguçu, Candiota e Pinheiro Machado estão entre estas cidades produtoras e contam com o suporte do Programa Estadual de Olivicultura. As três últimas, inclusive, têm suas indústrias locais de azeite.
Gerente técnico e comercial na Azeites Batalha, em Pinheiro Machado, Rossano Lazzarotto diz que a qualidade do que é fabricado na Zona Sul não fica devendo na comparação com marcas tradicionais importadas. O desafio, pondera, é torná-los cada vez mais conhecidos dos consumidores dentro e fora do Rio Grande do Sul. Opinião reforçada pela professora do curso de pós-graduação em Gestão Pública e Desenvolvimento Regional da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Andyara Barbosa. “Precisamos envolver iniciativas endógenas centradas nas capacidades produtivas e nos talentos da sociedade, de forma a gerar atividades produtivas exportadoras, cuja renda excedente seja retida na própria região, gerando um círculo econômico virtuoso”, analisa.
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