Editorial

A hora de definir um personagem

Chegando ao fim do terceiro mês de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) precisa refletir sobre qual persona será. Ele, que tanto fala em amor, parece volta e meia deixar com que as mágoas do passado interfiram diretamente na sua postura, que deveria ser de líder da nação. Em nada ajuda parte do comportamento de quem deveria ter o papel de união em um dos momentos mais conturbados econômica e socialmente da história recente do País.

Pensando com a cabeça de Luiz Inácio, o cidadão, é compreensível a mágoa que toma conta. Sem entrar em mérito de justiça ou injustiça de sua prisão, o fato é que o homem se sentiu e sente prejudicado por tudo o que transcorreu entre 2016 e 2021, período conturbado para a sua vida pessoal e política. Cadeia, viuvez, perda do neto, seu nome na "boca do povo" e até hoje, para muitos, sendo usado como sinônimo de ladrão. É uma volta por cima que poucos conseguiriam dar, mas Luiz Inácio, pela força de ser também Lula, conseguiu. Foi de Curitiba a Brasília. Saiu da carceragem e subiu a rampa.

Além dele, talvez só um outro líder mundial conseguiu uma reviravolta tão grande na sua biografia, de sair da prisão para comandar um País, e Lula não escondeu sua inspiração nele: Nelson Mandela. Ele ficou preso por 27 anos e depois comandou sua nação por quatro. O próprio petista se comparou a ele nas eleições passadas. O problema é que o mandatário brasileiro parece ter se inspirado na trajetória do seu herói sul-africano para a recuperação, mas não para o exercício do poder. O principal detalhe do currículo de Mandela não é a guinada, mas a gestão sem mágoas. Ele dominou o ódio que podia sentir pela opressão que sofreu e destacou-se como uma pessoa conciliadora. Ganhou um Nobel da Paz, inclusive.

O problema é que agora Lula, Presidente da República, não deveria carregar as mágoas de Luiz Inácio, o homem. As eternas trocas de farpas com o senador Sérgio Moro (UB) e outros lava-jatistas são a prova disso. É constrangedor. Não cabe ao presidente opinar em uma investigação em curso da Polícia Federal e ironizar chamando de "armação" o que, ao que os órgãos competentes indicam, caminhava para um atentado horrível contra um ente político brasileiro. Se Lula deixar os ressentimentos tomarem conta, vai perder, mesmo tendo ganho. Há que se ter força para dar também essa guinada, de não deixar a arrogância ou qualquer revanchismo prevaleceram. Se conseguir isso, vai ser bom não só para mais este capítulo de sua biografia, mas para ajudar o Brasil a, enfim, começar a olhar para frente, encarando os desafios necessários para voltar a crescer economicamente e, de quebra, deixando um bom exemplo comportamental à população.


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