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A mensagem da OMS: como foi ouvida?

Por Paulo Rosa professor de Pediatria e de Psicanálise UCPel [email protected]

A psicanálise, a teoria da comunicação, entre outras, documentaram com precisão que aquilo que alguém diz não é exatamente o que o outro ouve. Assim, como comunicar verdades à população? Como esta perceberá o que lhe foi comunicado? A recente decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), esse científico e lúcido órgão internacional, neste último 5 de maio de 2023, decretou que a pandemia de Covid19, ao ter-se atenuado ante vacinas eficazes, evoluiu para um estado já 'não emergencial'. Essa evolução contempla modificações importantes nas estratégias gerenciais, p.e., no processo de liberação de verbas, que agora diminuem, e de novas táticas nos cuidados com a pandemia, que, seja ressaltado, segue bem viva.

Como ficou estampada nas capas de jornais pelo mundo, face à vacinação e seu lerdo processo expansivo, ainda assim a pandemia vem se atenuando. Para exemplo local, aqui no Diário Popular, no dia assinalado, saiu a manchete: 'Após três anos, OMS declara fim da emergência em saúde pela Covid-19', em grande destaque de capa. O tema teve sequência na página 3, com o título "Fim da emergência de saúde da pandemia é declarado, mas fatores de superação ainda persistem', sendo que o texto que segue, em página inteira, refere não só as 1600 mortes em Pelotas, mas também as dificuldades iniciais com respeito aos testes diagnósticos _ fator descuidado pelo governo federal anterior _, sempre escassos e irregularmente distribuídos, além das mudanças nos hábitos de trabalho e dos impactos econômicos decorrentes. Na página 4, a charge, com os bons desenhos do Gazo, foi expressiva: aparece o desenho do covid acabrunhado, espetado por uma seringa com o rótulo 'fim'.

Tudo leva o leitor a crer que a pandemia acabou.

A Zero Hora deu ao assunto igual destaque. Tanto na capa quanto em página interna, a 17, onde o título: "Emergência global para Covid acabou, mas pandemia, não". Como o DP, a ZH utiliza toda a página e se empenha em esclarecer a população de que a pandemia não acabou _ "esse vírus deve continuar sendo transmitido", palavras da OMS; esse "fim", que não é fim, aparece no comentário: "a doença...os órgãos de saúde precisam estar atentos; sobre os cuidados que devem prevalecer: muito importantes...vacinação e uso de máscara; se tomo a vacina bivalente, estou mais protegido", declara pesquisador.
A notícia do "fim da emergência" alcançou todos os âmbitos. Na Folha de SP aparece até em coluna de gastronomia, onde se demanda que, assim como a "pandemia acabou", segundo o titular, que se acabem, nos restaurantes, os famigerados cardápios por QR Code.

O que se vê é um brutal desentendimento. A percepção geral da mensagem da OMS foi entendida que a pandemia acabou: erro trágico. Em Pelotas, no País e no mundo seguem mortes, ainda frequentes, por Covid.

Ao pessoal da mídia: só as manchetes são lidas e, no caso, precisam aprimoramento. Letra miúda: só 10% lê.


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