Opinião

A praça dos maçaricos

Por Paulo César Olmedo
Engenheiro Civil

Minha casa tem fundos para a rua Paulo Marques, antiga Vila Treptow, onde se localiza uma bonita área verde que deveria ser bem mais cuidada, já que hoje as vegetações, os desocupados e as caturritas que dizimam as plantações de milho, tem mais importância que a vida humana para muitas ONGs e órgãos de meio ambiente. Mas assuntos à parte, vamos descrever o que as mudanças climáticas, entre outras, estão modificando nosso dia-a-dia.

A maioria dos pássaros que antes habitavam as matas, banhados e outros ambientes naturais das redondezas estão trocando de domicílio, seus CEPs agora são outros. Meu pátio, não aquele da Osório, defronte a Pane Mio, onde nossa confraria liderada pelo Dr. Sérgio Olivé Leite pratica seu tradicional happy hour, está totalmente habitado por toda espécie de pássaros. Tem os sabiás laranjeiras que começam a cantar as quatro da madrugada, donos absolutos da pequena tina que serve de bebedouro e banheira ao mesmo tempo, espantando todos os outros que querem partilhar o banho vespertino, mais agora que o clima está estabilizado com o calor que já deveria ter vindo há mais tempo. Tem as forneiras que criam os filhotes de anús achando que são seus, as pombas rola em profusão, pois procriam o ano inteiro, pardais nem se falam, bem-te-vis que utilizam minha piscina para os rasantes de seus banhos, além de outros raros como tico-ticos, canarinhos da terra com seu belo canto, carochinhas, colerins, cebinhos e até papa-figos que martela minha vidraça com seu bico, pois enxerga a sua própria imagem refletida no vidro e começa a lutar.

Pois é, devem ter outros que ainda não cataloguei, mas lembro que um tempo atrás encontrei um filhote de galinhola nadando na piscina, não sei como foi parar ali, pois meus muros são altos e sei que eles voam baixo.

Batizei o fulano de Simão, em homenagem ao libertário Simão Bolivar, mas tive um trabalho louco para pegá-lo e levá-lo de volta ao seu habitat natural, lá nas margens do arroio Pelotas. Atualmente os mais novos habitantes da Pracinha Paulo Marques são os maçaricos do banhado, aqueles pássaros que vemos em bandos cruzando os céus ao entardecer, principalmente para quem utiliza a BR-392, indo ou voltando do Cassino, procurando um lugar para se recolherem e passar a noite e continuar sua jornada no dia seguinte. Eles, o casal de maçaricos, que para os gaudérios se chama maçanico do banhado, que também é uma dança tradicionalista gaúcha, ficam o dia a procura de alimentos, já que nas imediações dos meios-fios sempre tem água acumulada e deve dar o alimento protéico para sua subsistência. Estão quase completamente domesticados, pois conseguimos chegar bem perto deles. Tenho espalhado sementes de girassol e outras comidas do gênero que possuo em estoque para os habitantes de minha humilde residência. Pode ser que um dia eu consiga me comunicar com eles, a exemplo de São Francisco e aprimorar seu cardápio, dando a eles os quitutes que sempre desejaram, mas fatalmente serei tachado de louco e terei que ser hospedado lá naquela casa da Domingos de Almeida, ao lado do ringue do Dunas Clube. Será que essa juventude de hoje, que só v? o ecrã dos celulares e computadores aprendeu alguma coisa sobre passarinhos, não o Jarbas que foi aquele ministro de outrora, mas sobre todos que eu falei.

Que 2024 seja bom para todos nós, e para os pássaros urbanos, também.


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