Opinião

A queda de Ouro Preto

Por Sergio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Há muito o visconde de Ouro Preto recebia denúncias de que oficiais do exército conspiravam contra o trono. Mas o presidente do Conselho refuta-as e não acata uma real conspirata militar. Em 14/11/1889, porém, o ministro da Justiça envia-lhe uma nota recebida na véspera por parte de Floriano Peixoto, ajudante-general do Exército. Diz a nota: "A esta hora deve Vossa Excelência ter conhecimento de que tramam algo por aí além: não dê importância, tanto quanto seria preciso, confie na lealdade dos chefes, que já estão alerta". A polícia e a guarda cívica da Corte entram em prontidão. À noite, as coisas se agravam. Na cidade e nos quartéis espalham-se boatos de que o governo decretara a prisão de Deodoro da Fonseca. Mas eles são forjados por republicanos que aspiram precipitar os fatos. O plano surte efeito. Às 23h, após visita ao quartel da Polícia, Ouro Preto dirige-se ao Arsenal da Marinha. Ali inteira-se da gravidade da situação. Floriano informa-lhe o levante de duas unidades militares. O visconde cobra-lhe a prisão dos comandantes das unidades rebeladas. Apesar de Floriano afirmar-lhe que confia na guarnição, Ouro Preto envia um telegrama ao imperador, que se encontra em Petrópolis. No texto diz: "O governo toma as providências cabíveis para conter os insubordinados e fazê-los acatar as leis". É madrugada do dia 15 de novembro quando o Ministério deixa o Arsenal de Marinha.

No QG, Ouro Preto tem a visão exata da crise militar: tropas sublevadas marcham de São Cristóvão em direção ao Campo de Sant´Ana, sem que o governo tenha tomado medidas defensivas. As ruas adjacentes ao quartel permanecem desguarnecidas. O presidente do Conselho exige providências. Debalde. Todos lhe fazem corpo mole. Nenhum dos militares presentes se mostra decidido a arrostar as tropas revoltadas. O visconde de Maracaju, ministro da Guerra, foge à responsabilidade. Declara que a defesa está a cargo de Floriano, que a organiza "do melhor modo". Irritado, Ouro Preto cinge a espada e tenta esboçar uma reação. Mas logo chegam ao quartel-general os primeiros grupos das tropas rebeladas. Quando Floriano Peixoto aproxima-se de Ouro Preto para dizer-lhe que o marechal Deodoro, líder dos revoltosos, exige uma conferência, o presidente do Conselho explode de raiva. Não há conferência possível. Ao contrário, manda que Floriano determine a retirada das tropas amotinadas e que se valha da força para cumprir a ordem. "Esta é a decisão do governo!". Simpático aos revoltosos, Floriano faz parecer que vai agir, mas não age. O jogo está perdido. Novo telegrama é enviado ao imperador. Nele reitera-se a grave crise política do País. No pátio, as tropas de Deodoro confraternizam com a guarnição legalista. O encontro entre Deodoro e o ministro é histórico; o embate, duro. O ministério é demitido. Ouro Preto é preso. "Quanto ao imperador", diz Deodoro, "tem a minha dedicação, sou seu amigo, devo-lhe favores. Seus direitos serão garantidos". Deodoro então abandona o quartel. Exausto, ordena o retorno das tropas à caserna e retorna ao ninho. Para o marechal, derrubado o ministério Ouro Preto, o caso encerra-se aqui. Ledo engano...

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