Opinião
A saudade
Por Rubens Amador
Jornalista
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Continuando a escrever sobre as emoções mais comuns que habitam o nosso ser, hoje vamos falar da saudade.
A saudade é um sentimento que, vez por outra, se insinua em nosso espírito impregnando-nos de tristeza ao evocarmos felizes situações vividas geralmente com outra figura humana, e que, por súbita ausência, morte ou fuga, eclipsa-se de nosso dia a dia! É quando nosso sentimento pode ser invadido por certa nuvem densa e gris, que nos envolve vez por outra. Mas apesar das racionalizações, ninguém se livra do impacto do primeiro momento. Só com o inventário que logo surge junto com a surpresa é que se começa a perceber o real caráter do objeto de nosso afeto. Empedernidos amorosos creem que, sendo a saudade uma lembrança nostálgica, sentem-se atraídos por forte "compulsão de reviver tudo", como nos falou Freud. Assim se fecha o arcabouço da saudade.
É bom que seja sempre considerado pelos saudosos, que a saudade está sempre ligada ao passado, este espaço de tempo que pertence ao ontem, "às águas passadas..." Mas o teimoso sentimento, apesar de ser geralmente uma emoção dolorida, pode ser até ornada de certa nobreza, por ser evocada a partir de uma ternura recém vivida ou mesmo antiga. A saudade pode ser uma espécie de estupefaciente que às vezes deleita o espírito, embalando-o em pensamentos quiméricos. É emoção subjetiva e bem definida que nos assalta muita vez. Basta que quem a sente não esteja perdido pelo objeto, mas no sentimento bonito que foi criado, vivido, e deixado fluir durante certo tempo. Seja ele mera bijuteria e não joia rara! O que fica é emoção nobre, verdadeira ou falsa, mas que marcou de certa forma. É isto que gera a saudade.
Felizmente ela não é uma doce emoção destinada a ficar para todo o sempre como uma cicatriz. Ela passa, se esfuma e some, com o correr do tempo, este aliado que, se o soubermos manejar com habilidade, tudo sepulta; até mesmo por que o destino, às vezes, se utiliza até de uma prosaica fila de supermercado para nos propiciar encontros mais gratificantes. Por isso ninguém morre de saudade. Na maior parte das vezes se aprende com ela. Passa-se a conhecer caracteres. Mas seria injusto se dissesse que certas saudades, mesmo fugazes -simples bijuterias- são absolutamente estéreis. Qualquer um sabe que, desde o começo do mundo, até se pagava por momentos causadores de emoções safadas, mas que deixavam saudade, e que costumavam sumir tal como apareciam: de repente! Nas esquinas da vida.
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