Artigo
Calúnia de papel crepon
Por Rubens Amador - jornalista
O general Werner Freiherr von Fritsh, com seu colega Ludwig Beck, se constituíam nos mais ferrenhos generais antinazistas. Von Fritsh era um militar de escola que, quanto à sua capacidade como soldado, parece ter alcançado um nível de perícia profissional atingido apenas por um punhado de generais em qualquer país. Foi o primeiro da classe, com a extraordinária nota 9 em tática e história militar, as duas principais matérias, e isto conferiu-lhe um status equivalente ao de dois primeiros lugares: Oxford e Cambridge. Era oficial de frente em campo de batalha. Tendo recebido ferimentos na cabeça, por granada, recusou-se a ser levado para a retaguarda, no fragor da batalha.
A SS há muito espionava aos generais. Chegava ao requinte de apresentar relatórios confidenciais sobre a alta oficialidade a seus chefes: Himmler e Heydrich. O general Fritsh foi o primeiro oficial superior que fez sentir claramente detestar a nazificação do Exército! E como disso não fazia segredo, como oficial do Alto Comando do Estado Maior, atraiu o ódio da SS a si e ao Exército.
No verão de 1935, unidades da SS aquarteladas no polígono de exercícios de Altengrabow insultaram o Exército em geral, e a Fritsh em particular, com expressões extremamente vis. Fritsh sumariou, nos termos seguintes, a tendência que então se iniciou nas suas relações com a força paramilitar: “No período que se seguiu, estabelecemos relações controladas no tocante à SS. Além disso, tornou-se cada vez mais evidente que, contrariando ordens expressas do preposto do führer, o seu pessoal formulava relatórios sobre seus superiores. Infelizmente, esses assuntos chegavam a meu conhecimento apenas de uma forma que não me dava meios de enquadrá-los.”
Essas apreciações do general ao Comando desencadeavam cada vez mais o ódio da SS contra ele. Ódio mortal, talvez inveja (esta sempre a mais provável), pois os dois cabeças principais da força eram apenas civis, sem nenhuma qualificação militar. Assim que Fritsh voltou de dois meses de férias em Alexandria, Himmler e Heydrich, que constituíam a cúpula dos soturnos fardas negras e que espumavam de ódio contra o general dado as suas providências para frear suas ações deletérias, na sua ausência plantaram, com requinte, uma acusação de homossexualismo contra a pessoa do general Fritsh.
Apesar das sórdidas acusações contra o militar, mas sobretudo o homem digno que era, o escândalo enfureceu mais aos seus amigos de caserna, da escola, da vida diuturna daquele homem que tão bem conheciam, do que o próprio caluniado. A cúpula militar exigiu e foi formada, com a aquiescência do ofendido, uma Comissão Especial de Investigação, que concluiu após meses que as denúncias careciam de qualquer fundamento, estando, pois, o ínclito general von Werner Freiherr Fritsh, isentado de qualquer acusação. Em verdade, jamais as aleivosias caluniosas plantadas pela SS deprimiram o general, que era, por todos os títulos, seguro da sua masculinidade. Por ser um militar de alto calibre, admirado e respeitado por colegas e subalternos, mas sobretudo por seu profissionalismo, foi amplamente desagravado pela unanimidade dos oficiais generais ante a calúnia grotesca.
Mas o destino foi cruel para com o grande soldado. Mais tarde, à frente de suas tropas, no campo de batalha, com honra, caiu fulminado por um atirador de elite polonês diante das portas de Varsóvia, no dia 22 de setembro de 1939. Quanto a Himmler e Heydrich, seus caluniadores, tiveram mortes horríveis e inglórias como prêmio - anões que eram - e que tiveram a petulância de tentar igualar-se a outrem em dimensão humana, puxando-o inutilmente para baixo, mas saindo-lhes o tiro pela culatra.
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