Eduardo Allgayer Osorio
Como alimentar tanta gente?
Por Eduardo Allgayer Osorio
Engenheiro agrônomo, professor titular da UFPel, aposentado
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No início do século 19 a população mundial alcançou o seu primeiro bilhão. Hoje somos oito bilhões e em 2050 estima-se que chegaremos aos dez bilhões.
Acompanhando o aumento da população, cresce a expectativa de vida das pessoas e a sua renda per capita, pressionando mais ainda a demanda por alimentos e por matérias primas extraídas das plantas (fibras, biodiesel, álcool, resinas, madeira, celulose). Mudanças nos hábitos de consumo decorrentes do aumento do poder aquisitivo ampliam a demanda por alimentos processados e mais nutritivos. Como exemplos podemos citar que a produção de um quilo de carne exige, em média, seis quilos de ração cujos componentes principais são a soja e o milho e que, para produzir um quilo de queijo, são necessários dez litros de leite.
A preocupação sobre como alimentar uma população em crescimento retroage a 1789, quando o demógrafo Thomas Malthus sentenciou: “a população humana cresce em proporção geométrica enquanto a produção de alimentos aumenta em proporção aritmética”. Felizmente ele estava equivocado por deixar de prever que novas técnicas produtivas, mais eficientes, elevariam substancialmente o rendimento dos cultivos e que novas áreas seriam usadas para a produção de alimentos. Na Europa, sem atentar para o que hoje chamamos de sustentabilidade, vastos territórios cobertos por florestas, campos e várzeas foram ocupados, restando hoje apenas 4% da floresta natural antes existente. E igual processo ocorreu na América do Norte, remanescendo preservadas apenas as Montanhas Rochosas e os desertos. Os “pioneiros” que conquistaram o Oeste, ocupando o seu território com variados cultivos e com a criação de gado, ao invés de serem tratados como “criminosos ambientais”, como aqui, lá são festejados como heróis da pátria, tão decantados nas epopeias filmadas pelo cinema hollywoodiano.
No Brasil o estrago ambiental foi menor. Quem mais sofreu foi a Mata Atlântica, primeiro pela extração do pau-brasil e depois pelo cultivo da cana-de-açúcar nos estados do Pernambuco, Bahia, Sergipe e Paraíba, e pelo café em São Paulo e no norte do Paraná, num processo que degradou 70% desse bioma. E extensas áreas de outros estados também foram ocupadas por diversos cultivos e pela criação de animais. Hoje, segundo estudos divulgados pela Embrapa Territorial, ainda temos 66,3% de todo o território nacional coberto por vegetação nativa preservada, sendo 25,6% nas propriedades rurais, 13,8% nas terras indígenas e 10,4% nas unidades de conservação. Somadas, todas as lavouras e florestas plantadas ocupam apenas 9% da superfície territorial nacional. Somos, indubitavelmente, dentre todos os países, o que mais preserva o seu ambiente natural.
Sobre a alternativa de expandir a área cultivada para atender a crescente demanda por comida, cabe considerar que as áreas disponíveis para uso necessitam considerar, afora a produção de alimentos, as demandas por materiais vegetais não comestíveis, pela biomassa destinada à geração de energia (álcool, biodiesel, cavacos, pellets e outros), a mineração e o turismo, preservando as terras destinadas aos povos originais, as florestas ciliares que margeiam os cursos de água e as áreas de preservação natural permanente, compatibilizando a ecologia com a agronomia e com outras finalidades que demandam espaços no território nacional.
Nesse contexto, a solução passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento e uso do que é chamado de “boas práticas agronômicas”, promovidas pela pesquisa científica geradora de tecnologias progressivamente mais eficientes.
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