Artigo
Le dernier soupir
Por Sérgio Cruz Lima
Presidente da Bibliotheca Pública Pelotense
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Em dezembro de 1890, o tempo revela-se inclemente. A mistura de lama e neve, o céu plúmbeo, o frio, os edifícios enegrecidos, tudo aperta o coração. Dom Pedro arrasta atrás de si a melancolia e a decadência que é incapaz de ocultar. Os amigos, raros; o dinheiro, minguante. Embora complete 65 anos; aparenta 90. A imperatriz falecera; a filha Leopoldina, também. A data é de profunda tristeza. Aos poucos, a pequena família se aglutina em Cannes. O primeiro a chegar é o neto mais velho, Pedro Augusto. O velho e o moço jantam juntos, leem e jogam bilhar. Enquanto isso, Pedro Augusto briga com o doutor Mota Maia, médico de sua majestade. O mesmo comportamento é adotado com relação à sua tia, a princesa Isabel. Ele quer que o avô busque a cura nas águas de Baden-Baden; ela, em Vichy. O velho procura contornar as brigas, mas reclama das atitudes intempestivas do neto, que já manifesta sinais de insanidade mental. Em fins de dezembro todos estão em Cannes. Com filhos, genros e netos realiza-se o jantar de “feliz-ano”. Mas as tensões estão no ar.
No Brasil morre Benjamin Constant. Enlouquecera. A República anda de calças curtas. Fala-se em restauração do trono. O Congresso Nacional elege Deodoro; Floriano é o vice. A reação monárquica arde. Joaquim Nabuco exige o retorno ao regime imperial. Ouro Preto acusa os militares das piores falcatruas.
Em Cannes, tia e sobrinho não se falam. As crises psicológicas de Pedro Augusto se agudizam. Sem amigos, sem dinheiro, fecha-se em si mesmo. Depressivo, sente saudades da mãe, Leopoldina, do irmão Gusty, que está longe, e do pai que caça na Estíria. O palácio de Coburgo revela-se vazio. Sente muitas saudades do avô e, no verão de 1891, visita-o em Vichy. Toma um susto. Encontra-o fraco e incapaz de andar por si. O corpo de sua majestade cede às exigências do diabetes. Como nos outros encontros familiares, Pedro Augusto briga com todos. E retorna à Áustria. Agora sua face revela sinais de terror, remorso e desgosto da vida. Na realidade, sintomas de bipolaridade.
Longe disso tudo, o imperador morria. Do Brasil, mandara buscar um punhado da terra natal. Era o fim do outono em Paris. Gripado e febril, o quadro clínico evolui para uma pneumonia. Em 2 de dezembro de 1891, dia de seu aniversário, recebe amigos. À noite, o quadro clínico piora. Confessa-se. Na tarde do dia 4, agoniza. À beira do leito, ajoelhados, choram todos. Morre após uma agonia romântica, sem opor resistência à dama que chega para buscá-lo. O presidente da França concede-lhe honras de chefe de Estado. Seu corpo é levado à igreja da Madeleine, transformada em câmara-ardente. Após as exéquias, o corpo é levado à estação de trem Orléans. Daí segue para Lisboa. O rei dom Carlos acompanha seu féretro até a igreja de São Vicente de Fora. Hoje dorme em Petrópolis.
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