Marcelo Dutra da Silva

O ESG no agronegócio sustentável

Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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O agronegócio responde por mais de 50% de tudo que é exportado no Brasil e há muito tempo tem despertado o interesse do mercado de capitais. A própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem firmado acordos de cooperação técnica com organizações do setor no sentido de fortalecer os mecanismos de acesso dos empreendedores do agronegócio ao mercado de capitais, com a promoção de estudos, pesquisas e realização de eventos. Tudo para que se desenvolva na cadeia de negócio, por meio de ações de capacitação e disseminação de conhecimento, o senso de potencial de investimento no agronegócio, em uma nova geração de empreendedores.

Interesse que não está limitado aos grandes investidores, visto que há interesse crescente dos pequenos e médios produtores rurais, além de outros elos da cadeia do agronegócio, em acessar o mercado de capitais para se financiar, bem como dos investidores nas ofertas do setor. E serão estes acordos firmados pela CVM que vão auxiliar no desenvolvimento de políticas e normas cada vez mais inclusivas, além da realização de ações educacionais conjuntas com produtores rurais e outros agentes da cadeia para fomentar o acesso desse setor a novas fontes de financiamento, regras e diretrizes, incluindo princípios de sustentabilidade e práticas de responsabilidade socioambiental.

Segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), a taxa de crescimento do PIB agropecuário, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), têm se mostrado elevadas nos últimos anos, impulsionado pelo protagonismo da soja nas demandas dos principais países importadores, especialmente China e Estados Unidos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, recentemente, nota sobre o comércio exterior do agronegócio, com dados de janeiro de 2023. A balança comercial do agronegócio iniciou o ano com superávit de 8,69 bilhões dólares, bem acima do superávit de 2,61 bilhões de dólares da balança comercial total (que considera produtos de todos os setores). O valor das exportações brasileiras bateu novo recorde: 10,22 bilhões de dólares, com alta de 16,4% na comparação com janeiro do ano passado. No mesmo período, o valor das importações cresceu 37,1%, alcançando 1,53 bilhão de dólares.

Um sucesso quase completo, não fosse o fato que por traz destes números temos, ainda, notícias de desmatamento ilegal, queimadas, invasões de terras públicas e péssimas condições de trabalho. Realidades que não cabem mais no mercado, não no mercado de capitais moderno e sustentável, em que pesam nas práticas, ou seja, na governança do negócio, a responsabilidade social e ambiental. E este é o ponto de inflexão da mais radical das mudanças, mudar o discurso. Não é mais aceitável o coronelismo, a defesa ferrenha que só é possível produzir destruindo, abrindo novas fronteiras e contaminando tudo com cargas massivas de veneno (agrotóxicos), explorando até a última gota da natureza. Não funciona mais assim e a maioria já percebeu que precisa ser diferente ou estarão fora da realidade do mercado.

Os princípios ESG (Environmental, Social and corporate Governance) de sustentabilidade estão revolucionando as diretrizes do mercado de capitais, incluindo critérios que passam a ser exigidos a todo tipo de negócio, sobretudo o agronegócio. Os critérios para empréstimos e seguros vêm evoluindo ano a ano, deixando claro que uma nova régua comercial de produção sustentável, de respeito à lei, ao meio ambiente e às pessoas vem se firmando no Brasil e os que ousarem ficar de fora arriscarão grandes prejuízos. Portanto, é importante acordar e tomar ciência da realidade. Ficar insistindo na pregação de que o agronegócio é importante não é mais necessário. Todo mundo sabe disso. O que interessa são as formas de contribuição do agronegócio para nos tornarmos a maior economia verde do planeta.

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