Editorial
O homem que virou adjetivo
Carlos Drummond de Andrade certa vez disse: "Difícil não é fazer mil gols como Pelé; difícil é fazer um gol como Pelé".
A frase foi uma das tantas proferidas ao longo de décadas, com diferentes autores, para tentar resumir o camisa 10. E é uma das melhores porque ajuda a compreender a dimensão do que representa Pelé, indo muito além dos seus recordes e feitos impressionantes. Para além de um atleta do esporte mais popular do mundo, foi o jogador que mudou a história deste esporte e deu a maior colaboração para que aí sim, a partir de suas façanhas, o futebol se transformasse no mais conhecido e difundido jogo mundo afora. Este que morreu ontem aos 82 anos foi tão incrivelmente superior a qualquer outro dentro das quatro linhas que seu apelido virou adjetivo com o qual passaram a ser elogiados todos aqueles que beirassem a perfeição em suas atividades. O Pelé da música, o Pelé da escrita, o Pelé da arquitetura, da medicina…
Tudo no craque foi superlativo. É por causa dele que o número 10 representa o centro técnico de qualquer time. Camisa tão importante que, ao falar dela, não é necessário dizer mais. Quem a veste até hoje vira, automaticamente, preocupação para os adversários. E quando estes não correspondem em campo, logo são cobrados por serem "indignos" do número que carregam. Tal qual fez com as quatro letras de sua alcunha, o Rei do Futebol também tornou a expressão "camisa 10" um elogioso atributo de excelência.
Eleito o Atleta do Século em 1980 em votação do jornal francês L'Equipe, uma das mais importantes publicações esportivas do mundo, Pelé foi tão grandioso que suas conquistas não cabem só em registros. Ainda hoje há histórias que existem apenas na memória de quem viveu o período de sua carreira. Gols inacreditáveis, jogadas em que teria destroçado equipes adversárias inteiras, deferências de oponentes constrangidos diante de sua capacidade de fazer o inesperado. Lendas que, embora possam vir a ser inverídicas, em nada reduzem sua trajetória. Pelo contrário: tais casos só se perpetuam porque ninguém se atreve a duvidar que Edson Arantes do Nascimento possa um dia ter feito o que é impossível para os demais. Tal qual fez ao expulsar um árbitro, fazer um papa suspender a agenda só para recebê-lo ou ainda interromper uma guerra.
Edson, aliás, jamais referiu-se a Pelé na primeira pessoa. Sempre na terceira. Certamente porque tinha consciência de suas falhas humanas, bem distantes da perfeição que se aproximou como atleta, possível apenas às divindades.
Com seus erros, mas sobretudo com todos seus acertos, este cidadão negro, de família humilde do interior mineiro, é o brasileiro mais conhecido de todos os tempos. Ninguém foi tão reverenciado, ninguém colocou o País tão em evidência quanto ele. Sempre positivamente. Pelé é o maior. Eterno.
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