Esse homem que teve formação artística no clássico da pintura, acabou um artista cubista. Há várias obras desse famoso pintor, de grande qualidade artística, retratando pessoas e ambientes na forma realista, clássica e tradicional. Talvez o mais famoso dessa fase tenha sido o "Retrato de Gertrude Stein", de 1906. Picasso, que fora amigo por toda vida do grande Matisse - a quem admirava - por certo sofreu influência do grande pintor clássico no seu início profissional. Mas no ano de l912 aderiu ao cubismo, esse gênero desafiador, que exige de seus adeptos uma grande coragem.

Quase nunca são eles próprios, os criadores, que explicam suas telas, e sim os críticos, que admiram a essas manifestações artísticas e se permitem descreverem e explicarem as criações. Picasso pintou Guernica, inspirado, segundo ele, na destruição daquela cidade de 5.000 habitantes que foi completamente destruída em 27 de abril de 1937 pelos aviões nazistas aliados de Franco. Os detalhes explicativos da tela que se tornou famosa veio através dos críticos! O povo simples nunca sentiu pelo trabalho o mesmo entusiasmo dos críticos de arte.

Pessoalmente, admiro Picasso por seu passado clássico, do seu início como pintor. Teve várias fases até chegar ao cubismo, estágio em que concluiu sua prolífica vida artística. Além de pintor, fez esculturas, artes gráficas e cerâmica. Inegavelmente é um artista. Embora goste muito mais de Miró, um modernista, por quem fui a Porto Alegre só para apreciar sua exposição internacional, que lá se deu, de todas as suas obras. Isto há alguns anos, e voltei extasiado apesar do seu modernismo.

Voltando da exposição, escrevi aqui no Diário, entusiasmado, um artigo a respeito, intitulado "Miré a Miró". Mas o Picasso das obras aparentemente grotescas na sua forma e cor, não as entendo e por isto não gosto. Porém, já do artista catalão, pintor e escultor Salvador Dali, com seu surrealismo, me emocionam suas figuras surpreendentes pintadas com traços tradicionais da arte eterna. Para surpresa minha recebo dia destes xerox de um amigo, com declarações de Picasso a Giovanni Papini, no ano de l952, grande escritor italiano que foi íntimo amigo de Pablo, ambos nascidos no mesmo ano de 1881, e declarações estas traduzidas do espanhol pelo senhor Danúbio Gonçalves, e distribuído pelo Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas (MAPP), com o seguinte conteúdo:

"A maioria da gente já não busca na arte a emoção ou o consolo, a não ser os ricos, desocupados e refinados, os que acreditam ser destiladores de quinta-essências, só procuram o novo, o raro, o original, extravagante e escandaloso. Eu mesmo, a partir do cubismo, satisfiz a esta clientela e a esses críticos com todas as raridades que me passavam pela cabeça. E quanto menos me entendiam, mais me admiravam. Entretanto, eu me divertia _ com todas essas atribuições, com todos esses absurdos, quebra cabeças e arabescos, mais crescia a minha fama; para um pintor, significava vendas, lucros, fortuna e riqueza. E agora como você sabe, sou célebre e muito rico. Porém, quando me encontro só comigo mesmo, não tenho a sensação de reconhecer-me como um grande artista no verdadeiro sentido. Giotto, Ticiano, Rembrandt, estes foram grandes pintores; eu só sou um animador público que entendeu a imbecilidade, a vaidade e a cobiça dos meus contemporâneos. Esta é uma amarga confissão, mais dolorosa do que parece, porém tem o mérito de ser sincera."

Essa foi a manifestação íntima de Pablo Picasso feita para seu grande amigo íntimo, Papini. Quero encerrar contando algo que li em uma de suas biografias: Pablo Picasso gostava de frequentar bons restaurantes sempre convidando uma plêiade de amigos de quem gostava, tomando os melhores vinhos da casa e saboreando os melhores quitutes. Ao fim do ágape ele chamava o gerente, apanhava um guardanapo e assinava: "Pablo Picasso". Entregava para o maître, olhava-o, enquanto este com aceno favorável de cabeça, agradecido, considerava paga toda despesa. Abraços apenas encerravam aquele farto jantar.