Editorial
Um mergulho na realidade
Para grande parte da população pelotense que tem sua rotina concentrada em atividades nas áreas mais centrais de Pelotas, a cidade talvez passe impressão de existência de desigualdade social semelhante àquela presente em tantas outras grandes e médias localidades País afora. Chaga impossível de passar despercebida diante de tantas pessoas pedindo dinheiro nas esquinas ou dormindo debaixo de marquises ou em barracas improvisadas. Contudo, essa é apenas a ponta de um iceberg profundo e muito antigo que insiste em resistir e se manter sólido, sem qualquer derretimento.
Nas últimas semanas, o Diário Popular mais uma vez mergulhou na missão de levar ao assinante e leitor do Jornal uma visão sobre a pobreza da cidade para além do que está na superfície. Como pode ser conferido em material nas páginas 8 e 9 desta edição, produzido pelo repórter Douglas Dutra e pelo fotojornalista Jô Folha, basta se afastar um pouco do centro urbano pelotense para perceber o gigantesco contraste na comparação com a pujança de uma cidade que não para de ganhar novos prédios, receber mais estudantes universitários, apresentar resultados promissores em pesquisas científicas e se destacar no campo da inovação.
Em barracos improvisados, muitas vezes sem água e/ou energia elétrica, onde saneamento básico é expressão que causa espanto e desconhecimento, vivem dezenas de milhares de famílias. Cidadãos que, perante a falta de oportunidades e políticas públicas capazes de realmente promover o acesso a direitos básicos e dignidade, são obrigados a sobreviver de bicos, de doações de entidades e igrejas. De programas sociais.
E é justamente um dado sobre o principal programa de distribuição de renda do País, o Bolsa Família, que mostra o quanto Pelotas patina e não consegue sair do lugar no enfrentamento à miséria. Conforme os números do governo federal, embora a cidade seja a quarta mais populosa do Rio Grande do Sul, está no segundo lugar no ranking do número de famílias dependentes dos repasses mensais, ficando atrás apenas da capital Porto Alegre. Ou seja, há, proporcionalmente, maior desigualdade e miséria em território pelotense, o que é corroborado ainda pelo Mapa da Nova Pobreza, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que aponta a cidade e seu entorno como a região gaúcha mais pobre, com 19,17% dos moradores nesta condição.
Estes dados, somados aos rostos e vozes trazidos pelo DP nesta tentativa de levantar o debate e chamar atenção ao problema, precisam servir para algo. Uma ação rápida, coordenada e eficiente que garanta pelo menos aos filhos de quem vive nas piores condições hoje em Pelotas possa, ali adiante, ter dignidade e ascender socialmente. Sem isso, de nada adianta uma cidade de prédios e ruas bonitas e bem iluminadas.
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